A revolução do 25 de Abril prejudicou muitas pessoas, que
nunca esquecerão o ressentimento e beneficiou muitas outras que sempre a
idolatrarão.
Como podem os repatriados, retornados e refugiados das
colónias ou províncias ultramarinas esquecer os vexames que passaram, os
companheiros assassinados e os bens de uma vida que tiveram de abandonar?
Como podem aqueles que por protestarem por não ter salário
justo ou comida para pôr na mesa foram encarcerados em Caxias, Peniche, sem
julgamento e depois de torturados?
A lista é longa e sem fim ou conclusão, para qualquer das
perspectivas.
Apetece-me pensar em Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto
Balsemão, Mota Amaral, Joaquim Magalhães Mota, Miller Guerra, Pinto Leite,
deputados eleitos nas listas da Acção Nacional Popular, partido do Estado Novo,
sob a batuta do Presidente do Conselho Marcelo Caetano. Dentro do regime,
anticomunista e antidemocrático, nas palavras de Oliveira Salazar, eles levantaram
a voz contra o regime e esses discursos foram publicados na Seara Nova que se
vendia em qualquer banca de jornais.
Hoje não há quem tenha frutos da horta para levantar a voz
na Assembleia da República contra o partido que o elegeu e lhe providencia
sustento. Talvez precisamente porque não estão a prestar serviço público mas a
trabalhar para o partido ou para fazerem nome e ganharem reforma.
Apetece-me pensar no significado que têm nesta reflexão
Cristiano Ronaldo e Eusébio da Silva Ferreira. Além de ser grande em todo o
mundo, Ronaldo faz Portugal grande em todo o mundo, em primeiro lugar porque
repete os maiores feitos da nossa História ao levar o nome de Portugal a todos
os lugares habitados da Terra, tal como os heróis navegadores, descobridores e
evangelizadores. Isto é fruto da liberdade que nasceu com a Revolução do 25 de
Abril. Eusébio foi proibido por Salazar, como atesta a História de emigrar e
levar mais longe o nome de Portugal.
Antes exportámos mão-de-obra de muito boa qualidade, mas
essencialmente barata e não qualificada. E o regime abatia a tiro aqueles que
atravessavam a fronteira a salto por não conseguirem autorização para emigrar. Fosse
Eusébio, fosse um analfabeto bruto do interior beirão.
Hoje até há tolos governantes a incitar à emigração a nata
da portugalidade, os jovens altamente qualificados e muito bem recompensados e
remunerados no estrangeiro. Como se explica que exportemos médicos para os
países mais desenvolvidos do mundo e importemos médicos de países do terceiro
mundo ou de universidades que nem figuram nos rankings?
Olhemos para os nossos jovens. Quem concordaria hoje em
enviá-los para teatros de guerra, com alta probabilidade de morrerem, depois de
se atirarem para a frente de combate em consequência de serem drogados? Quem concordaria
hoje em enviar os filhos para a selva violar mulheres e castrar homens? Os tempos
são outros, mas antes, como hoje, falamos de pessoas, de filhos de Deus.
São apenas reflexões, porque as explicações e justificações
estão na posse das multinacionais e transnacionais que escravizaram os
portugueses negros em Angola e Moçambique, principalmente, sugaram o ouro, os
diamantes e todas as riquezas que eram portuguesas pela legalidade internacional
e fruto do trabalho dos nossos irmãos que nessas terras nasceram, como tinham
nascido os seus pais, avós… O governo de Lisboa foi impotente, estava castrado,
para defender a sua riqueza, em favor da Pátria e dos povos de quem se queria
fazer defensor.
Os portugueses ficaram por maiores esclavagistas do mundo,
mas a central exploradora e cofre dos lucros da escravatura estava em Londres,
nessa Londres que apupou Marcelo Caetano, como se o governante português fosse
mais colonialista que a Rainha Vitória e todos os reis e rainhas e governos
britânicos.
Há uma reflexão grande a fazer sobre o 25 de Abril, num
contexto que tem de recuar, pelo menos, até à queda da monarquia.
Terminamos com uma comparação. A Primeira República envolveu
o país em guerras, desterrou trabalhadores e sindicalistas para as colónias e
levou o país à bancarrota. Portugal não foi ocupado, tomado e dividido por
espanhóis, ingleses e outros, porque Salazar esteve, bem ou mal, melhor, bem e
mal, ao leme. Mas quando o país foi salvo de Salazar veio de Sócrates e teve de
vir Passos Coelho, figura que abomino, mas que teve uma acção de regeneração
contabilística idêntica a Salazar.
Conseguimos irritar quase todos, com este texto, porque a verdade
dói.
Orlando de Carvalho