domingo, 26 de maio de 2019

Lixar o outro porque sim


Eu conduzia uma pessoa em emergência médica, no meu carro, sinalizando com faróis, luzes de emergência e sinalização sonora.

Ao atravessar Praça do Saldanha, em Lisboa, utilizei a faixa reservada a transportes públicos (BUS). A minha marcha foi então atrapalhada, não cortada porque o outro condutor não conseguiu, por um táxi, isto é, por um motorista de táxi, que gesticulava e gritava por eu estar a usar aquela faixa de rodagem.

Eu seguia em emergência devidamente sinalizada, mas aquele indivíduo, que devia estar ainda a sentir os efeitos de uma noite mal dormida ou bem bebida, decidiu que devia lixar-me. Porquê? Simplesmente porque sim!



Passados vinte anos, estou de novo na situação de conduzir em emergência médica. Tal como no caso anterior identifico a emergência com sinalização sonora e luminosa, luzes intermitentes e faróis. E estou já perto do hospital, em zona de passagem de ambulâncias e outras viaturas a caminho das urgências. Ao aproximar-me de uma passagem de peões, um homem olha-me e avança deliberadamente. Reforço a sinalização sonora. E o homenzinho esbraceja e grita que ali é uma passagem de peões, quase ameaçando avançar contra o meu carro. Não sei se ia aflito a procurar um urinol ou periclitante a morrer de fome, sei que estava completamente decidido a lixar-me e a quem eu conduzia. Porquê? Simplesmente porque sim!



Numa via entre um rio e um campismo, numa vila do interior, num local onde não passariam mais de cem carros por dia, e onde os carros estacionavam tanto à esquerda como à direita, estacionei na contramão. A via era bastante larga, demasiado larga. Não passavam carros, os peões eram pouquíssimos, e as viaturas estacionavam assim, de um lado, do outro, em espinha… Como numa aldeia, pois a vila é pouco mais que uma aldeia. Uma equipa de dois GNRs local multou a minha viatura. Mostrei o meu desacordo, mas de nada valeu. Dirigi-me ao Posto da Guarda onde expus ao comandante a minha indignação. Expliquei que ninguém tinha sido prejudicado nem podia vir a ser atrapalhado ou afectado pelo modo como o carro estava estacionado. E o senhor concordou comigo. Mas apresentou-me um argumento irrefutável:

- Veja, aqui na terra, os meus homens não têm que fazer, nada acontece. Isto é um marasmo. Quando finalmente conseguem realizar algum trabalho, eu não posso anular ou pedir-lhes que anulem o que fizeram. Eles precisam de ter algo que fazer.

Nunca esperei ouvir com tanta clareza tamanha sinceridade. Mas lixei-me com a multa. Porquê? Simplesmente porque sim!



Há uns anos, foi tornado obrigatório o uso de umas palas na traseira de todos os automóveis que supostamente evitariam a projecção de água, lama, detritos, para o carro que seguia atrás. Alguém terá descoberto alguma vantagem neste negócio de obrigar todas as viaturas a terem estas palas que, passados poucos anos foram eliminadas da lei e deixaram de ser obrigatórias.

Entretanto, o carro que eu tinha na altura não se dava bem com as tais palas que sistematicamente eram arrancadas quando eu estacionava. E tive tanta sorte que fui multado duas ou três vezes por essa razão. Legalmente mas imoralmente porque se tratava de uma invenção para vender palas e prejudicar os condutores. Tanto assim era que a lei acabou. Mas eu lixei-me a comprar palas e a pagar multas. Porquê? Simplesmente porque sim!



Ao volante de um BMW bastante seguro fui sancionado por transportar 6 pessoas (eu e mais 5), porque a lei só me permite o transporte de 5 passageiros. Parece que eu estava a pôr em perigo aquelas pessoas.

Estacionei o meu carro e todos nós, os 6, apanhámos um tuc-tuc, onde viajámos os 6 mais o condutor do tuc-tuc. Nas barbas dos polícias. Claro que fizemos a segunda parte da viagem em muito maior segurança que a primeira. Não me lixem! Lixado já eu ando com tudo isto. Porquê? Simplesmente porque o governo manda assim!



Há quem advogue que se deve amar todas as pessoas, quaisquer que elas sejam, independentemente das situações.

Como atestámos, há quem pareça viver e satisfazer-se unicamente em lixar todas as pessoas que forem capazes de lixar. Lixam porquê? Simplesmente porque sim!



Há quanto tempo anda o homem a evoluir? Talvez há 100 mil anos. Mas terá evoluído? Seremos mais civilizados que os nossos ancestrais de há milhares de anos? Somos melhores pessoas? Somos mais civilizados? Ajudamo-nos mais mutuamente? Ou tratamo-nos como bestas na selva, não da mesma espécie, que essas se entreajudam, mas como bestas de espécies diferentes que lutam e se comem para sobreviver? Note-se, todavia, que as lutas e os prejuízos causados mutuamente entre as pessoas deste tempo não têm como objectivo a sobrevivência, nem o bem-estar, mas simplesmente a estupidez. O “porque sim”!



Orlando de Carvalho

sábado, 25 de maio de 2019

Certificado de Pessoa Honesta

Começa assim a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) que foi adoptada em 10 de Dezembro de 1948 pela Organização das Nações Unidas:

Artigo 1: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.



António Salazar quis dar de si uma imagem íntegra, honesta, patriótica, de pessoa inteligente e preocupada com os seus compatriotas, enfim, o salvador e o pai da Pátria. Ele estava certo e errado. Foi salvador e carrasco da Pátria e foi pai e padrasto.



Não sei e creio que ninguém o sabe com certeza documentada, nem virá a saber, até que ponto Salazar estava informado sobre a crueldade utilizada pelos seus agentes. Tenho a certeza que os critérios de avaliação deste tempo não são válidos para o tempo em que a História de namoro e matrimónio entre Salazar e Portugal teve início. A escravatura, a pena de morte, a exploração e abuso infantil, a desconsideração de mulheres, crianças, negros, e quase todas as subclasses humanas, era comum em todas as nações e lugares da Terra. Infelizmente continua a ser este o pensamento que conduz a maioria da humanidade. Ao instalar a paz na sociedade portuguesa, Salazar outorgou às pessoas a possibilidade de optarem, não obstante a perseguição política, criaram-se condições para as pessoas escolherem o seu caminho, em paz. Mesmo o Partido Comunista pode existir, na clandestinidade ou semiclandestinidade, uma vez que os seus membros não eram mortos a eito, por serem comunistas.

Salazar teve o grande defeito de ser burro ao ponto de pensar que era tão esperto, não inteligente, que conseguia enganar todos.

No liceu havia uma disciplina chamada Organização Política e Administrativa da Nação que em certos aspectos equivalia ao que hoje se chama Cidadania. Aprendia-se toda a organização do Estado, desde a Constituição às câmaras municipais, e as bases políticas e filosóficas que as fundamentavam. E criticava-se a democracia.

A título de exemplo da burrice de Salazar e seus acólitos, voltamos ao Artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que era assim referida:

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais”.

Depois argumentava-se que isto é falso, porque as pessoas não nascem iguais, umas são homens e outras mulheres, uns são brancos e outros pretos, uns têm famílias ricas e outros pobres, uns são saudáveis e outros doentes, etc.

De facto a Declaração Universal dos Direitos Humanos não afirma que as pessoas nascem iguais, mas que nascem iguais em dignidade e direitos.

Salazar mentia, o Estado Novo mentia, a escola mentia e domava alguns menos inteligentes, mas era absurdo pensar que todos os alunos eram tão estúpidos que iam numa cantiga destas. Mas havia muitas cantigas destas no Estado Novo. Salazar salvou a Pátria da irresponsabilidade dos maçónicos da I República, que em vez de restaurarem a calamidade social que a monarquia tinha deixado instaurar, a agravaram. Mas Salazar afundou a Pátria quando pensou que era mais inteligente que todos e o único capaz de mantar a Pátria a salvo, mesmo mentindo, matando. A sua fotografia poderia ter ficado na História de Portugal com uma moldura diferente.



Há muitas pessoas que estão convencidas que são mais espertas que as outras e que conseguem enganar, não meio mundo, mas todos. Foi sem dúvida o caso de Salazar.

Conheci um senhor proprietário de uma fábrica que na ânsia de ganhar dinheiro à custa de enganar, passava revista às mercadorias antes de saírem da fábrica e roubava qualquer coisa a cada peça. Pensava que era uma maneira de enriquecer, mas nunca conseguiu passar da cepa torta. Precisamente porque tinha fama de aldrabão.

Infelizmente parece que aumentam dramaticamente os casos destas pessoas que estão convencidas que se poderão tornar em grandes personagens ou milionárias, engando ou roubando tudo e todos; acreditam que estão rodeadas de idiotas incapazes de perceber que estão a ser roubados. São pessoas a quem falta verticalidade e dignidade, enfim, renunciam à dignidade e direitos com que nasceram, de acordo com a DUDH.

Mas o mundo já é muito velho e dificilmente mudará. É mesmo assim. Salazar mentia e mandava mentir, neste caso explicado e em muitos outros, os detractores de Salazar são incapazes de reconhecer o bem que ele fez.

Este mundo já não vai mudar. E poucos teremos direito a Certificado de Pessoa Honesta quando formos deitados no caixão.



Orlando de Carvalho

terça-feira, 7 de maio de 2019

INQUÉRITO DE VIDA

INQUÉRITO DE VIDA

1.    Ao fim da semana disseste mais vezes o nome de Deus ou o nome do teu clube favorito?
2.    O que é mais importante levares contigo quando sais de casa: o telefone ou o terço?
3.    Perante uma contrariedade grande, dizes mais facilmente “Meu Deus!” ou “Merda”?
4.    Quando deparas com alguém a fazer uma grande asneira (na estrada, no café, em casa…) a tua primeira reacção é chamar a atenção da pessoa, denunciá-la, ou insultá-la, ou tomar uma atitude de pensar “Isto que está mal, quantas vezes eu fiz o mesmo? Vou ajudar a pessoa e tentar não repetir, agora que percebi que também eu o faço”?
5.    Prescindes mais facilmente de uma celebração religiosa ou de um jogo?
6.    Se defendes o ambiente, já alguma vez pensaste se não estarás a gastar mais que o necessário em guardanapos de papel ou papel higiénico?
7.    Lembras-te de qual foi a última vez que deste a prioridade a uma pessoa numa fila, a ceder um assento, não a cumprir a lei que agora existe, mas por respeito cívico, mesmo que a pessoa não esteja em nenhuma categoria prevista na lei das prioridades? E da última vez que fingiste não ver, para não cederes o teu lugar?
8.    Alguma vez deitaste fora um livro novo, a meio de o leres, porque aquela escrita te enojava?
9.    Guardas os restos de uma refeição no frigorífico ou deitas no lixo?
10. Já fingiste que não ouvias uma criança que te interrompeu no meio de uma conversa sem teres a certeza do que ela te queria dizer?


Este inquérito não tem pontuação, nem soluções para aferir se respondeste certo ou errado.
Se, fores capaz de chegar ao fim de ler as respostas, sem te deteres em algumas delas, pelo menos, para reflectir, estiveste a perder tempo com este inquérito porque já deves ser um caso perdido.

Orlando de Carvalho