sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Ser tolerante com quem e porquê?


Não tem sentido falar em tolerância com homossexuais, pretos ou outros. Tolera-se um erro, por isso se fala em tolerância zero, que é não mais erros. As pessoas diferentes são simplesmente pessoas. Diferentes.
A não aceitação de pessoas diferentes conduz a diversas situações.
- Se os cristãos rejeitam os judeus, então rejeitam Jesus, Maria, José, Pedro e Apóstolos
- Se os nazis rejeitam gente de baixo carácter, aperto de mão frouxo, frustradas desde a infância, então rejeitam Hitler
Está na moda acusar de homofóbicas as pessoas que se sentem incomodadas com a homossexualidade ou na presença de conversas ou atitudes homossexuais. Chamam-lhes intolerantes. Quando afinal os que as agridem chamando-lhes esses nomes e tentando segrega-las é que são intolerantes, xenófobos.
Quantas vezes me aconteceu já discordar ou discutir com alguém diferente de mim, cigano, homossexual ou negro. Da mesma forma que discordo ou discuto com uma pessoa com quem partilho cultura, religião, cor de pele. Acontece que com o diferente de mim, tudo se resolve quando o outro me chama racista, homofóbico, machista, ou o que lhe convier para defender o seu ponto de vista. Neste século XXI, estamos a afundar-nos nesta cilada, desonesta, mas bem montada.
Já lá vai o tempo em que a ofensa não ultrapassava o chamar benfiquista ou sportinguista ao outro.
Eu serei tolerante, quanto possível, para uma pessoa que mente, que rouba, que transgride e prejudica os outros. Serei tolerante com a sua falta.
Com um canceroso, um paralítico, um chinês, uma mulher, um homossexual, eu não posso ser, nem tenho que ser tolerante. A pessoa não prevaricou, nada há a perdoar, nada há a tolerar.
Caso diferente será se essa pessoa pretender inverter os critérios da nossa sociedade, como apresentar a pedofilia como normal ou a monogamia como conceito a abater.

Orlando de Carvalho

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Levar Universidade à Floresta


O Escaravelho da Palmeira, cientificamente denominado Rhynchophorus ferrugineus, assumiu a dimensão de epidemia no Norte de África e Médio Oriente na década de 1980. Entrou em Espanha em 1995 e em Albufeira em 2007, expandindo-se por todo o país.

Assistiu-se a partir de então ao apodrecimento das palmeiras, com maior evidência para as que foram plantadas nas vias públicas e jardins para efeitos decorativos. Qualquer cidadão entendia a necessidade de cortar, primeiro as palmeiras afectadas e, como se revelasse insuficiente, todas as palmeiras susceptíveis de apanhar a doença.

Demoraram as autoridades a tomar as medidas necessárias e ainda são visíveis muitas árvores doentes que ainda esperam ser cortadas para não contagiarem outros indivíduos.


A Lagarta do Pinheiro, processionária ou quaresma, é outra epidemia que ataca o pinheiro e, neste caso, com perigo também para as pessoas.

A Vesta Asiática é outra espécie não nativa, que causa grave perturbação na economia nacional.

Anuncia-se a chegada de uma nova praga, a Podridão da Castanha, provocada pelo Gnomoniopsis castânea que poderá destruir um novo sector da economia nacional se não forem tomadas medidas urgentes.

Tal como em relação aos fogos, estas e outras epidemias e pragas instalam-se normalmente com a passividade das autoridades que as deviam atacar e dizimar. Espera-se, até se atingir uma situação fora de controlo. E fica-se à espera das decisões do Governo, como se de um deus se tratasse que tivesse resposta para todos os males. E quando não as tem, pelo menos existe a quem atribuir culpas.

Já alguém terá pensado em instalar num concelho do interior um Laboratório para estudar e combater estas doenças?

Pode não ser tarefa fácil, mas o que fácil já está feito.

Metodologia, feita em cima do joelho, apenas para exemplificar.

Parceria com uma Universidade ou Instituto que se dedique a estas matérias, seja de Coimbra, Oeiras ou Bragança.

Instalação de uma Unidade Experimental no tal concelho do interior.

Fundos para instalação, manutenção e funcionamento: próprios da autarquia.

Encargos com trabalhadores contratados não cientistas: IEFP, etc.

Encargos com trabalhadores especializados, cientistas, jovens universitários: bolsas da FCT.

Possibilidade de fazer variadas parcerias com empresas químicas e bioquímicas e outras.

O que fica, desde início, proibido: dar preferência aos do partido, dar preferência aos amigos, forjar documentos e compras para meter dinheiro ao bolso.

É indispensável arrojo, porque todos dirão que isto é impossível, a não ser os que estiverem a pensar lucrar directamente com o empreendimento. Mas é viável, muito viável. Assim haja quem tenha bravura e ousadia para tal.





Orlando de Carvalho.


sábado, 9 de novembro de 2019

Homicidas somos nós, não a mãe


Todo o Chefe tem associada a si uma aura de divindade. O Chefe tem necessidade que o considerem como deus e os chefiados reconhecem-no como tal, em maior ou menor medida. Se o Chefe não fosse divino, as suas ordens injustas ou desonestas não seriam cumpridas, mas são-no na generalidade dos casos. É o célebre alibi dos nazis após a quase destruição da civilização e da Humanidade:
- Eu era subalterno e tinha que cumprir ordens.
Mesmo que a ordem fosse renegar-se como pessoa.
O meio através do qual o Chefe se impõe e à sua divindade é a lei que ele desenha e faz cumprir. A lei assume o papel de livro sagrado que permite ao Chefe realizar e divulgar a sua divindade.
Em diferentes medidas, aconteceu com os imperadores romanos, mas com todos os outros imperadores, e outros soberanos, com os donos, com os patrões, com os chefes de gangues, com todos os tiranos de Staline, a Hitler, a Mao-Tsé-Tung, a Kim Jong-un, a Bokassa.
Quando é publicada uma lei a proibir ou a obrigar seja o que for, por mais estúpida e injusta e contestada que essa lei seja, as pessoas vão-na interiorizando e aceitando, mesmo que teçam algumas objecções e façam críticas, de início.
As pessoas detestavam a Inquisição e temiam-na, mas acabavam tantas vezes por colaborar na denúncia de amigos, vizinhos e familiares.
As grandes campanhas que têm sido desenvolvidas para modificar mentalidades, normalmente corrompendo as pessoas, revestem o mesmo estatuto do Chefe e da sua lei.
A lei decreta que em Singapura é crime atirar beatas para o chão e no Ocidente apenas sorrimos, tão idiota que achamos o assunto, nem dá para discutir.
Mas se num país da Europa, é decretada uma lei idêntica, as pessoas começam a reagir de maneira diferente. Podem pensar que é uma lei sem pés nem cabeça, que é injusta, que favorece interesses, mas vão-se habituando a respeitar essa lei, como se fosse honesta e moral. Tal como sucedeu nos Estados Unidos da América com a Lei Seca. Era lei, portanto, embora não a cumprindo, a sociedade submeteu-se-lhe. Embora, como tudo o que é contranatura, tenha terminado um dia.
Uma jovem sem-abrigo, sem escolaridade, sem cultura, sem ter aprendido a pensar, sem ser capaz de formular raciocínios, sem família, sem dinheiro, sem aulas de educação sexual, sem nunca ter recebido Amor, sem conhecer o Amor, percebe que o seu corpo está a sofrer modificações radicais. Percebe o que se está a passar mas não quer acreditar. O seu cérebro não é capaz de processar a informação do que lhe está a acontecer ao corpo, porque se sente agredido e encurralado: não tem resposta para o que se está a passar. Só consegue formular rejeição. Aquela invasão tem que ser eliminada, expulsa. É preciso evitar a contaminação por este vírus, porque ele não causará apenas uma indisposição ligeira, uma gripe, mas um compromisso para a vida inteira, uma crise aguda de amor, para a qual a jovem nunca se preparou nem foi preparada. Seria a derrocada total do seu ego.
Mal aquele corpo estranho é expulso das suas entranhas, ela nem percebeu bem como, trata de o eliminar completamente da sua vista. Que alternativas se lhe poderiam colocar? Vesti-lo? Com quê? Alimentá-lo? Como? Enfaixá-lo? Com quê e onde? Deitá-lo? Debaixo da ponte, ao frio? Amá-lo? Ninguém lhe tinha ainda ensinado o Amor.
A solução óbvia é “bebé para o lixo” e caso arrumado.
Felizmente, o bebé foi ocasionalmente descoberto. Seria fortuita a descoberta ou manobra salvífica? Foi salvo. Toda a comunidade indignada com tão grande crime se mobilizou na caça ao homicida. Todos indignados e sem entender como era possível tão grande manobra de ódio, tão horrível crime.
O bebé foi salvo e entregue a cuidados de saúde.
A caça à mãe foi bem sucedida.
Eu pensava que pessoas capazes e com autoridade social iam conversar com a mãe para entender as suas razões e ajudá-la a recuperar do trauma e a sentir-se mãe e a descobrir o amor. Ensinar-lhe que havia opções como ter recorrido a algum centro de acolhimento, parir o bebé num hospital público e declarar que não o queria ou podia criar. Tantas hipóteses para quem sabe, para quem aprendeu, mas não para quem foi criado na rua, cresceu na rua e vive na rua.
O que aconteceu foi bem diferente. A mãe foi detida, como qualquer delinquente, em prisão preventiva.
Provavelmente, homens e mulheres envolvidos na sua captura, acusação e detenção são pessoas que já estiveram envolvidas em abortos. Que idade tinha o bebé depositado no contentor de lixo? Que idade teriam os eventuais bebés abortados por aquelas pessoas?
O governo fez uma lei a autorizar o aborto, fingindo que essa lei resultava de um referendo nacional, o que é falso. O referendo não foi válido porque os portugueses demonstraram não estar interessados nele. Não houve um número de votos mínimo para validar o referendo. A lei do aborto pode ser revogada a qualquer momento.
A jovem mãe detida tem que ser colocada em liberdade imediatamente. Tem que lhe ser facultado acompanhamento, a ela e ao filho, se ela estiver disposta a acolhê-lo, se for ensinada a amar, se entender o seu erro. Se não acontecer, então a criança seja entregue a quem cuide dela, sempre na perspectiva de que a melhor solução poderá passar pela normalização da relação com a mãe, se isso vier a revelar-se possível.

 
O aborto é legal, é bom, é livre, é um direito da mulher, assim se ensina na escola. E como vimos de início, quando uma situação é feita lei, passa a ser acatada pelas pessoas como moral, natural e óbvia. O homicídio de bebés intra-uterino é legal, é bom, é livre, é um direito da mulher, assim se ensina nas escolas.
Para uma mulher de vida miserável e sem soluções, o aborto, uns dias depois, é crime.
Penso nos médicos que são acusados de mau trabalho na realização de ecografias que não identificam deficiências, impedindo que esses corpos sejam abortados. Uma mulher queixava-se há dias na televisão que o seu irmão morreu aos 18 anos (ela conviveu com ele 18 anos!) morreu por causa de um problema congénito. Atribuía a culpa ao médico da ecografia, porque assim o bebé (o irmão com quem conviveu 18 anos) não foi abortado.
Mais miserável que a coitada, somos nós, Nação, que em vez de a socorrermos, lhe passamos uma rasteira e a empurramos para a lixeira, sem querer saber se vai sobreviver, se vai morrer, se vai suicidar-se (se for eutanásia, também será legal).
Defender o aborto, ou praticá-lo, e acusar esta mulher, é cobarde, é indigno, é anedótico.
Eu exijo para ela o direito a ser amada e compreendida e ajudada. De certeza que para seguir com a sua vida não precisa dos milhões que ladrões recebem do Estado. Apenas uma pequena ajuda. E muita proximidade humana.
Há nisto tudo uma culpa cristã por não termos coragem de repetir as palavras dos Apóstolos: “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens”.

Orlando de Carvalho