quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Eutanásia sem tirar a vida

 


Estou a escrever no carro à porta do café, porque não podia esperar. Ninguém me vê a chorar porque há muito tempo que gastei as lágrimas. Apenas o coração lacrimeja e pestanejo. Estava na mesa do café e vi aqui uma publicação do Padre Carlos Manuel Gomes 
Não comentei, porque os comentários devem ser todos iguais sobre a solidão daquele idoso. E ouvi a conversa da mesa do lado.
Pessoas da minha idade (70). Era mais ou menos assim:
Os idosos mesmo que estejam bem devem ir voluntariamente para um lar. Há lares que os tratam mal mas também há outros onde têm tudo. Os idosos são um perigo, para eles e para os outros. Pode dar-lhes uma coisa, podem esquecer um fogão ou esquentador aceso, etc. Não conseguem ter a casa tão limpa como antes, nem cozinhar como antes. A solução é irem para um Lar, mesmo bons de saúde.
Entretanto o meu coração chorava.
Eu sei que há casos em que essa é a melhor solução. Mas aquelas pessoas horríveis concordavam em que, quando eles recusam, a solução é levá-los ao engano. Vão passear e deixam-nos lá. Lembrei-me do meu pai com 91 anos. Lembrei-me dos cuidados à minha mulher, que não chegou a idosa, mas precisou de cuidados que ninguém imagina que eu e as minhas filhas prestámos, lembrei-me da minha sogra que estava quase paralisada, do meu filho tetraplégico, da minha filha diabética, todos falecidos excepto o meu pai.
Levar um pai ou outro familiar ao engano e abandoná-lo numa casa de repouso quando se gasta tanto dinheiro em campanhas contra o abandono de animais de estimação!
Não tenho lágrimas, mas tenho o coração apertado e a tremer, choro lágrimas secas. Há pessoas que são mais desumanas que animais. Escrevo a quente, com erros provavelmente, mas consegui conter-me e não dizer nada àquelas pessoas. E contive o vómito que me provocaram.