sexta-feira, 23 de novembro de 2018

De Santiago a Lisboa


Em 11 de Setembro de 1973, Salvador Allende, Presidente da República do Chile, chefiando um governo de esquerda, morria no Palácio La Moneda, sede do poder chileno, quando este estava sob bombardeamento de tropas revoltadas e chefiadas pelo futuro ditador, general Augusto Pinochet.
Na origem próxima da revolta estiveram os camionistas que entraram em greve geral e bloquearam por completo o país, aliados a outros trabalhadores.
Em Novembro de 2018, sob um governo socialista, de esquerda, suportado por uma aliança de toda a esquerda parlamentar, que se denominou geringonça, quase todos os trabalhadores estão em greve, ou para lá caminham, e mesmo "trabalhadores".
Enfermeiros - Só no Hospital S. João, Porto, 12 cirurgias diárias podem não se realizar, incluindo cardiotorácicas a crianças Juízes em greve Estivadores tentando parar a maior parte das exportações do país Professores em greve Trabalhadores das escolas em greve Funcionários públicos em greve Trabalhadores dos transportes públicos em greve
Serão os próprios sindicatos a tentar deitar abaixo o governo de esquerda?
Estará Portugal fadado a ser um país atrasado?
Que interessa se a culpa é do Estado, dos patrões, dos trabalhadores...
A culpa é portuguesa, com certeza.

Como muitos outros, este podia e devia ser um país próspero. Não é por nossa culpa, pela culpa de cada português, por culpa de quem prefere defender o seu clube (ou partido, ou...) a defender o seu bem-estar e a felicidade da sua família.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A pseudo-História

Saqueados em Lisboa e expostos no Museu de História Natural em Paris


A revista visão publicou online, hoje, este artigo, sem indicação de autoria, e que me merece catalogação num marcador de pseudo-História em resultado do espalhafato que pretende fazer ao manipular factos históricos em favor de um jornalismo que tem como objectivo vender sem olhar a meios. 




Os museus em França devem devolver os tesouros roubados a África, diz um relatório, 21.11.2018

Está à vista de todos. Muitos museus europeus (sobretudo de antigas potências colonizadoras) estão cheios de obras de arte africanas. É um facto conhecido por todos que estes tesouros não foram propriamente oferecidos.
Agora, um relatório de dois académicos, a quem o presidente francês Emmanuel Macron pediu propostas para a restituição de peças de herança cultural africana, vem dizer inequivocamente que as obras que foram retiradas e enviadas para França sem o consentimento dos países de origem devem ser devolvidas se os mesmos países de origem as pedirem.
Este processo de restituição - continua o relatório dos académicos Bénédicte Savoy e Felwine Sarr, a que o jornal The New York Times teve acesso - deve ser feito de forma colaborativa, com a informação a ser recolhida e analisada, com trocas de conhecimento científico e formação de profissionais.
"Não posso aceitar que uma grande parte da herança cultural de vários países africanos deva estar em França. A cultura africana deve ser mostrada em Paris, mas também em Dakar, Lagos ou Cotonou. Essa será uma das minhas prioridades", disse o presidente francês, há um ano, perante uma plateia de estudantes em Ouagadougou, capital do Burkina Faso.
Se as propostas do relatório forem levadas adiante, poderá isso significar o esvaziamento de alguns museus franceses como o Quai Branly, que expõe 70 mil peças de arte da África subsariana? "Essa não é a questão", disse Bénédicte Savoy citada pelo The New York Times. "Trata-se de equilibrar a geografia da herança cultural africana no mundo, em que os museus europeus têm quase tudo e os museus africanos quase nada", acrescentou. O relatório sublinha que 90 a 95% da herança cultural africana não se encontra em África mas em grandes museus ocidentais.
O relatório recusa ainda uma solução como a que está a ser negociada entre o British Museum, em Londres, e a Nigéria, para que sejam emprestados a este país africano importantes esculturas que foram retiradas do antigo reino do Benim. O relatório francês é categórico em afirmar que a restituição deve ser permanente. A concretizar-se a vontade de Macron, a decisão dos franceses pode ter implicações em muitos outros países, incluindo Portugal.




A ignorância ou falsidade e má-fé advém precisamente de colocar Portugal ao lado de grandes potências da exploração colonialista, neste caso em relação ao saqueio de obras de arte, quando sabemos bem que fomos despojados de imensas riquezas tanto por franceses como por ingleses durante as guerras napoleónicas. E também por espanhóis, em diversas ocasiões ao longo da História.

A grande diferença em relação a património histórico entre Portugal e outras nações europeias não se deve apenas ao terramoto e ao maremoto de 1755, mas igualmente ao roubo perpetrado por invasores espanhóis e principalmente franceses e ingleses. 




Entre o saque levado pelos franceses, na sua primeira invasão, contam-se milhares de espécimes, animais e vegetais, que hoje se encontram no Museu de História Natural de Paris.
Com o General Junot, na primeira invasão francesa, veio também um cientista chamado Geoffroy Saint-Hilaire com o objetivo de recolher espécimes e informações.
Em Lisboa reuniu milhares de amostras, que incluem centenas de animais empalhados, enviados para Paris e que hoje integram a colecção do Museu de História Natural da capital francesa.
Um grande número destes espécimes veio do Brasil. Calcula-se que só da colecção do Palácio da Ajuda tenham saído mais de mil animais.
No Museu de História Natural de Paris este material, roubado em Portugal entre 1807 e 1808, é conhecido como a colecção do “Cabinet de Lisbonne”.
 


É legítimo também evocar os tesouros marítimos que pelo Direito Internacional pertencem a Portugal mas que, por incapacidade, ignorância ou interesses obscuros de gerações de governantes, têm sido desprezados.

Orlando de Carvalho