Saqueados em Lisboa e expostos no Museu de História Natural em Paris
A revista visão
publicou online, hoje, este artigo, sem indicação de autoria, e que me merece catalogação
num marcador de pseudo-História em resultado do espalhafato que pretende fazer
ao manipular factos históricos em favor de um jornalismo que tem como objectivo
vender sem olhar a meios.
Os museus em França devem devolver os tesouros
roubados a África, diz um relatório, 21.11.2018
Está à vista de todos. Muitos museus europeus (sobretudo de
antigas potências colonizadoras) estão cheios de obras de arte africanas. É um
facto conhecido por todos que estes tesouros não foram propriamente oferecidos.
Agora, um relatório de dois académicos, a quem o presidente
francês Emmanuel Macron pediu propostas para a restituição de peças de herança
cultural africana, vem dizer inequivocamente que as obras que foram retiradas e
enviadas para França sem o consentimento dos países de origem devem ser
devolvidas se os mesmos países de origem as pedirem.
Este processo de restituição - continua o relatório dos académicos
Bénédicte Savoy e Felwine Sarr, a que o jornal The New York Times teve acesso -
deve ser feito de forma colaborativa, com a informação a ser recolhida e
analisada, com trocas de conhecimento científico e formação de profissionais.
"Não posso aceitar que uma grande parte da herança
cultural de vários países africanos deva estar em França. A cultura africana
deve ser mostrada em Paris, mas também em Dakar, Lagos ou Cotonou. Essa será
uma das minhas prioridades", disse o presidente francês, há um ano,
perante uma plateia de estudantes em Ouagadougou, capital do Burkina Faso.
Se as propostas do relatório forem levadas adiante, poderá
isso significar o esvaziamento de alguns museus franceses como o Quai Branly,
que expõe 70 mil peças de arte da África subsariana? "Essa não é a
questão", disse Bénédicte Savoy citada pelo The New York Times.
"Trata-se de equilibrar a geografia da herança cultural africana no mundo,
em que os museus europeus têm quase tudo e os museus africanos quase nada",
acrescentou. O relatório sublinha que 90 a 95% da herança cultural africana não
se encontra em África mas em grandes museus ocidentais.
O relatório recusa ainda uma solução como a que está a ser
negociada entre o British Museum, em Londres, e a Nigéria, para que sejam emprestados
a este país africano importantes esculturas que foram retiradas do antigo reino
do Benim. O relatório francês é categórico em afirmar que a restituição deve
ser permanente. A concretizar-se a vontade de Macron, a decisão dos franceses
pode ter implicações em muitos outros países, incluindo Portugal.
A ignorância ou falsidade e má-fé advém precisamente de
colocar Portugal ao lado de grandes potências da exploração colonialista, neste
caso em relação ao saqueio de obras de arte, quando sabemos bem que fomos
despojados de imensas riquezas tanto por franceses como por ingleses durante as
guerras napoleónicas. E também por espanhóis, em diversas ocasiões ao longo da
História.
A grande diferença em relação a património histórico entre
Portugal e outras nações europeias não se deve apenas ao terramoto e ao
maremoto de 1755, mas igualmente ao roubo perpetrado por invasores espanhóis e
principalmente franceses e ingleses.
Entre o saque levado pelos franceses, na sua primeira
invasão, contam-se milhares de espécimes, animais e vegetais, que hoje se
encontram no Museu de História Natural de Paris.
Com o General Junot, na primeira invasão francesa, veio
também um cientista chamado Geoffroy Saint-Hilaire com o objetivo de recolher
espécimes e informações.
Em Lisboa reuniu milhares de amostras, que incluem centenas
de animais empalhados, enviados para Paris e que hoje integram a colecção do
Museu de História Natural da capital francesa.
Um grande número destes espécimes veio do Brasil. Calcula-se
que só da colecção do Palácio da Ajuda tenham saído mais de mil animais.
No Museu de História Natural de Paris este material, roubado
em Portugal entre 1807 e 1808, é conhecido como a colecção do “Cabinet de
Lisbonne”.
É legítimo também evocar os tesouros marítimos que pelo
Direito Internacional pertencem a Portugal mas que, por incapacidade,
ignorância ou interesses obscuros de gerações de governantes, têm sido
desprezados.
Orlando de Carvalho
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