Classicamente, desde que ainda se confundiam com as forças
militares, eram criadas corporações com a finalidade de defender as pessoas
importantes, poderosas, ricas e o seu património. Em colaboração com as
entidades judiciais, ou o que de mais parecido existisse, resolvia-se o
problema do roubo de um pão, mandando enforcar o presumível ladrão, a questão
de alguém que caçara ou pescara nas terras do senhor rico e importante, da
nobreza ou do clero, mandando assassinar o caçador furtivo por decapitação.
As polícias têm sido, ao longo dos tempos, a guarda
pretoriana dos ricos, dos que vivem do trabalho alheio e nada fazem além de “governar”,
isto é, dar ordens e fazê-las cumprir acerca de assuntos de que nada entendem. Dos
que se governam.
Com especial ênfase no século XX, desenvolveu-se outro
conceito de polícias. Com a evolução da noção de Estado e para a justificação
da sua existência, as polícias tiveram de assumir-se como defensoras do povo,
dos ofendidos, e não dos poderosos e opressores.
Dizemos isto de modo mais acessível. As polícias deixaram de
existir para defender os ricos e o seu valioso património, oprimindo o povo e
dando-lhe ordens, normalmente ilegais e injustas. As polícias passaram a servir
o povo. Claro que este conceito não é universal, nem maioritário, nem é fácil
encontrar a sua concretização na prática. Mas está disseminado globalmente. A obrigação
do polícia é servir o cidadão. Claro que continua a existir violência policial
injustificada, mas é frequente levantarem-se vozes, sejam murmúrios, lamentos
ou protestos mais ou menos violentos.
Que bom é ensinar às crianças que os polícias são para a
segurança delas: quando se perdem, quando são perseguidas, maltratadas,
roubadas, como se os polícias fossem uma espécie de anjos da guarda dos
cidadãos.
Eu estava dentro do meu automóvel no perímetro do aeroporto
e acessos e parques. Parei ao lado de um polícia. O homem já não era novo e
tinha aquele aspecto que era muito comum aos seus pares há cinquenta anos
atrás. Pela janela aberta tentei chamar-lhe a atenção meia dúzia de vezes.
- Por favor…
Mesmo ao meu lado, parecia não ouvir. Mas eu ouvia
perfeitamente. Ele argumentava com um motorista e o seu passageiro que estavam
numa situação de transporte ilegal. O carro não estava identificado, mas não era
TVDE, não era UBER, o passageiro dizia que era amigo do condutor, o condutor
dizia que era pai do passageiro, o passageiro não sabia o nome do condutor, mas
o condutor sabia que o seu nome era Tiago, mas mesmo assim o passageiro não
sabia o apelido do pai, aliás, o passageiro já tinha passado a ser apenas filho
de um amigo do condutor.
O meu caso era urgente e continuei a chamar.
- Senhor agente, por favor… ouve-me?
O polícia já gritava que estavam a querer enganá-lo (só
agora tinha descoberto? Era tão evidente…)
Eu tive de insistir, mudando a minha estratégia e levantei a
voz.
- Senhor agente, preciso da sua ajuda.
O polícia pouco amistoso, que me tinha estado a ouvir todo o
tempo (ele estava a menos de um metro da janela do meu carro) e que agora já
sabia que eu era um cidadão que precisava de ajuda, virou-se de frente para
mim, apenas os instantes necessários para declamar:
- Eu não ajudo nada. Não vê que estou ocupado. Siga!
Eu precisava de ajuda, mas não estava em perigo, não estava
em perigo de vida ou a ser perseguido, mas que o agente da autoridade não teve
oportunidade de o saber. O meu caso, de facto, até poderia ter sido algo muito
mais grave do que era.
De futuro vou ensinar às crianças com quem lido que os
polícias são aquele holograma meio angélico e em quem podemos confiar sempre ou
que são pessoas algo rudes e sem disponibilidade para prestar auxílio aos
cidadãos em dificuldades?
Imagem da Internet
Afinal qual era a sua urgência para interferir/interromper o trabalho do Polícia? Ligou o 112?
ResponderEliminarFicamos todos sem perceber qual era a sua dificuldade.
Não entendeu nada.
EliminarA urgência é irrelevante.
O polícia não pode responder que não ajuda.
Teve mau comportamento.
Tem uma viatura em serviço ilegal, identificada, que não pode fugir.
A obrigação dele era dar outra resposta. Aliás, era dar uma resposta. O que não aconteceu.