sábado, 14 de dezembro de 2019

Para que servem as polícias?


Classicamente, desde que ainda se confundiam com as forças militares, eram criadas corporações com a finalidade de defender as pessoas importantes, poderosas, ricas e o seu património. Em colaboração com as entidades judiciais, ou o que de mais parecido existisse, resolvia-se o problema do roubo de um pão, mandando enforcar o presumível ladrão, a questão de alguém que caçara ou pescara nas terras do senhor rico e importante, da nobreza ou do clero, mandando assassinar o caçador furtivo por decapitação.

As polícias têm sido, ao longo dos tempos, a guarda pretoriana dos ricos, dos que vivem do trabalho alheio e nada fazem além de “governar”, isto é, dar ordens e fazê-las cumprir acerca de assuntos de que nada entendem. Dos que se governam.



Com especial ênfase no século XX, desenvolveu-se outro conceito de polícias. Com a evolução da noção de Estado e para a justificação da sua existência, as polícias tiveram de assumir-se como defensoras do povo, dos ofendidos, e não dos poderosos e opressores.

Dizemos isto de modo mais acessível. As polícias deixaram de existir para defender os ricos e o seu valioso património, oprimindo o povo e dando-lhe ordens, normalmente ilegais e injustas. As polícias passaram a servir o povo. Claro que este conceito não é universal, nem maioritário, nem é fácil encontrar a sua concretização na prática. Mas está disseminado globalmente. A obrigação do polícia é servir o cidadão. Claro que continua a existir violência policial injustificada, mas é frequente levantarem-se vozes, sejam murmúrios, lamentos ou protestos mais ou menos violentos.



Que bom é ensinar às crianças que os polícias são para a segurança delas: quando se perdem, quando são perseguidas, maltratadas, roubadas, como se os polícias fossem uma espécie de anjos da guarda dos cidadãos.



Eu estava dentro do meu automóvel no perímetro do aeroporto e acessos e parques. Parei ao lado de um polícia. O homem já não era novo e tinha aquele aspecto que era muito comum aos seus pares há cinquenta anos atrás. Pela janela aberta tentei chamar-lhe a atenção meia dúzia de vezes.

- Por favor…

Mesmo ao meu lado, parecia não ouvir. Mas eu ouvia perfeitamente. Ele argumentava com um motorista e o seu passageiro que estavam numa situação de transporte ilegal. O carro não estava identificado, mas não era TVDE, não era UBER, o passageiro dizia que era amigo do condutor, o condutor dizia que era pai do passageiro, o passageiro não sabia o nome do condutor, mas o condutor sabia que o seu nome era Tiago, mas mesmo assim o passageiro não sabia o apelido do pai, aliás, o passageiro já tinha passado a ser apenas filho de um amigo do condutor.

O meu caso era urgente e continuei a chamar.

- Senhor agente, por favor… ouve-me?

O polícia já gritava que estavam a querer enganá-lo (só agora tinha descoberto? Era tão evidente…)

Eu tive de insistir, mudando a minha estratégia e levantei a voz.

- Senhor agente, preciso da sua ajuda.

O polícia pouco amistoso, que me tinha estado a ouvir todo o tempo (ele estava a menos de um metro da janela do meu carro) e que agora já sabia que eu era um cidadão que precisava de ajuda, virou-se de frente para mim, apenas os instantes necessários para declamar:

- Eu não ajudo nada. Não vê que estou ocupado. Siga!

Eu precisava de ajuda, mas não estava em perigo, não estava em perigo de vida ou a ser perseguido, mas que o agente da autoridade não teve oportunidade de o saber. O meu caso, de facto, até poderia ter sido algo muito mais grave do que era.



De futuro vou ensinar às crianças com quem lido que os polícias são aquele holograma meio angélico e em quem podemos confiar sempre ou que são pessoas algo rudes e sem disponibilidade para prestar auxílio aos cidadãos em dificuldades?

Imagem da Internet


2 comentários:

  1. Afinal qual era a sua urgência para interferir/interromper o trabalho do Polícia? Ligou o 112?
    Ficamos todos sem perceber qual era a sua dificuldade.

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    Respostas
    1. Não entendeu nada.
      A urgência é irrelevante.
      O polícia não pode responder que não ajuda.
      Teve mau comportamento.
      Tem uma viatura em serviço ilegal, identificada, que não pode fugir.
      A obrigação dele era dar outra resposta. Aliás, era dar uma resposta. O que não aconteceu.

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