Para alguns, este homem é um exemplo da indignidade humana.
Para outros é um hino à vida.
Casos da Vida foi um conjunto de filmes exibidos pela TVI em
2010 em que eram dramatizados casos reais. Como já passaram oito anos e a
produção de novas séries é dispendiosa, este canal faz como os outros e está a
repetir a série. Apercebi-me disse quando, em árduo trabalho de zapping,
apanhei um desses episódios. O pedido.
Trata-se de um jovem recém casado que é vítima de um acidente
de moto 4 e fica tetraplégico. O drama da não aceitação da situação e a procura
ansiosa pela morte constitui a espinha dorsal do filme que termina com a
conclusão de que a eutanásia não é crime, mas acto de amor. É a própria esposa
que corta o oxigénio provocando o fim do sofrimento e a morte. A amiga que
mostra oposição ao homicídio é apresentada aos espectadores como alienada e
parvinha.
A tensão dramática está sempre centrada no apelo ao
sentimentalismo falacioso e a discussão sobre o tema proposto, a eutanásia,
resume-se a uma sequência de mentiras factuais e científicas. A dialéctica entre
a opção pela morte como meio de fuga ao sofrimento e a vida com os seus
meandros e precariedade foi substituída por uma retórica entre viver como dono
da Vida ou não viver de todo.
A única coisa importante da vida foi ocultada ou ignorada: a
felicidade.
Algumas mentes não são capazes de entender a felicidade e a
alegria e mesmo a realização pessoal de uma pessoa tetraplégica ou com outros
constrangimentos. São mentes com horizontes curtos e pouco cultivadas.
Mesmo má é a falsificação de dados científicos apresentadas
no filme, os choradinhos mal-intencionados que são feitos para convencer as
pessoas enganando-as.
Para os autores do filme e os defensores da eutanásia, o
cientista Stephen Hawking, a quem foi diagnosticada esclerose lateral
amiotrófica, em 1963, quando tinha 21 anos, tinha o direito e o dever de optar
pela eutanásia. Em vez disso, Hawking trabalhou como cientista e professor,
limitado pela sua doença, pela incapacidade em se deslocar, falar, comunicando
com o mundo quase apenas através de aparelhos electrónicos adaptados à sua
pessoa e adquiriu a distinção de ser considerado um dos mais importantes
cientistas do nosso tempo, senão a maior cérebro.
Quem tiver a curiosidade de ver o filme, pode ser encontrado
nas boxes da televisão e, penso que também, no site da TVI, registe que a
generalidade dos dados sobre a evolução clínica do doente e os dados
supostamente científicos e clínicos são falsos.
Entenda-se, pois, que é com base em mentiras e na ignorância
das pessoas em relação a muitos assuntos que está a ser feita a campanha pela
liberalização e incitamento à eutanásia. Os verdadeiros defensores, os mentores
desta campanha, apenas querem patentear um modo fácil de evitar enclausurar os
velhos em hospitais, com falsas doenças, em lares, e mesmo outras pessoas com
necessidades especiais (muitas vezes apenas necessidade de atenção) incluindo
crianças, matando-os. Também o Estado poupa muito dinheiro, pois é mais barato
matar os velhos e os doentes que cuidar deles.
A eutanásia que propõem é uma vergonhosa mentira.
Orlando de Carvalho
Não sou da mesma opinião. As circunstâncias que a uns parecem apenas uma pedra no caminho, a outras parecem montanhas inultrapassáveis. Sou a favor de dar todas as possibilidades a quem quer ultrapassar os seus limites, mas se uma pessia está numa situação em que não tem hipótese de ter uma vida minimamente satisfatória, e em que está dependente de outros, mas tem a lucidez suficiente para decidir, não creio que seja homicídio. O sofrimento atroz a que às vezes se assiste quando se trabalha com doentes terminais dá uma perspectiva diferente desta temática.
ResponderEliminarCarla, eu posso compreender o sofrimento humano. Penso que todos compreendemos, ou quase todos.
ResponderEliminarO que está em causa no filme, para quem viu ou puder ver, e me motivou este escrito em concreto, é a quantidade de argumentos falsos, do ponto de vista clínico e científico. Acompanhei uma pessoa tetraplégica que viveu dias felizes, tanto quanto possível, até à morte, acompanhado e apoiado. A atitude mais fácil, naquele e em todos os casos, é manifestar impotência e descartar de algum modo a pessoa.
Afinal é o que está em causa na discussão actual sobre a Eutanásia. É facilitar a morte, ou homicídio, ou suicídio, ou eutanásia, o nome é irrelevante, como opção de vida. A morte como opção de vida. Para pessoas que estão cansadas de viver, para crianças. E incentivar essa busca da morte como opção de vida.
O que a senhora apresenta, esse sofrimento, tem uma primeira resposta num conjunto de atitudes, de aproximação, os muito falados e não entendidos cuidados paliativos, na proximidade e no cuidado. Nunca, como vai acontecer, porque o nosso país não é diferente dos outros, como propôr, à partdi, quer morrer ou viver em sofrimento.