Representantes de uma editora entram na sala de aula de uma
escola do 2º ciclo. Com autorização da autoridade escolar.
O objectivo é convencer os alunos a instalarem uma aplicação
no telemóvel através da qual a editora dá às crianças diversos acessos a
material escolar e jogos. Alguns fazem de imediato a instalação. Outros mais
tarde. Os que não têm telemóvel ficam a ver os colegas. E os agentes comerciais
voltam na semana seguinte para premiar os utilizadores com esferográficas.
Isto choca com a nossa maneira de estar no mundo e com o
respeito que nos merecem as crianças. Aos pais isto passa ao lado. Os professores
certamente aplaudem na certeza, na esperança ou na ignorância das vantagens que
poderão obter da editora. As editoras estão-se borrifando para o ensino. Sabemo-lo
pela baixa qualidade dos manuais escolares onde proliferam erros. As editoras
querem ganhar dinheiro. Apenas.
É nosso entendimento que se trata de abuso infantil. Não punido
nem denunciado por quem o devia fazer, que prefere aplaudir ou aproveitar.
Não nos calaremos, mesmo que os dedos se cansem de tanto
escrever.
Orlando de Carvalho