Manifestação em Berlim contra as alterações climáticas
A eleição, pela primeira vez, de deputados do partido
ecologista e pacifista, Os Verdes, para o Bundestag, o parlamento alemão,
sucedeu em 1983. O equilíbrio tradicional de forças na Europa sofreu então o
primeiro grande choque dos tempos recentes.
Vinte anos antes, o Presidente John Kennedy afirmara que “O vínculo essencial que nos une é que todos nós
habitamos neste pequeno planeta. Todos nós respiramos o mesmo ar. Todos nos
preocupamos com o futuro de nossos filhos. E somos todos mortais”
exprimindo um sentimento de preocupação essencialmente ambientalista. A
declaração estava contida no seu discurso "Estratégia para a Paz",
1963.
As preocupações com o ambiente mais ou menos premonitórias
assumiram um carácter global quando todos perceberam que as espécies animais e
vegetais estavam a desaparecer devido à acção malévola ou, no mínimo,
despreocupada e imprudente das comunidades humanas e das autoridades constituídas.
Atitudes como as do Presidente norte-americano Donald Trump
não revelam estupidez nem ignorância, mas antes ganância. Trump está disposto a
sacrificar a humanidade actual e as futuras, ao lucro que obtém com a
exploração económica do que não pode ser explorado porque é bem comum e
limitado. Atitudes do mesmo género têm sido assumidas por regimes comunistas ou
por Jair Bolsonaro. A avareza leva os extremos a tocarem-se e fundirem-se.
Sociedades de reciclagem de materiais vivem de subsídios de
governos ou de entidades supragovernamentais, não se preocupando minimamente
com o serviço público que deveriam prestar, mas apenas em receber lucro e
despender o mínimo possível, e se possível, sem reciclar verdadeiramente.
A listagem de falcatruas encheria certamente vários livros.
Então, a defesa do ambiente passou a ser um assunto na moda
e como os opositores do ambiente coincidem na maior parte das vezes com
não-LGBT, passou a ocupar lugar central em todos os sectores da política.
A adolescente que provocou uma greve mundial
Surgiu então um novo fenómeno: Greta Thunberg. Uma
adolescente sueca que lançou um movimento de greves estudantis pela defesa do
ambiente, que segundo alguns estudiosos não passou de um golpe dos grupos
económicos, também eles gananciosos, que a utilizaram para obter proveitos
financeiros, ganhar dinheiro à custa dos que pensam estar a salvar o planeta.
O movimento da pequena Greta, sua mãe e capitalistas
apoiantes, cresceu. Tomou proporções a nível de todo o planeta com gente a vir
para a rua em todos os continentes para se manifestar. Comoviam certamente os
pais, ou quem fosse, a participar nas manifestações de rua com carrinhos de
bebé.
Se essas pessoas estão tão decididas a salvar o planeta,
deixo algumas questões verdadeiramente práticas que podem ser menos ruidosas
mas que serão muito bem acolhidas pelo planeta e pelas gerações vindouras. São
questões que coloco a cada um dos defensores do planeta Terra, da mãe Natureza.
Ao longo dos tempos, as pessoas utilizaram diversos aspectos da Natureza como fonte de energia.
Fazia-se farinha moendo cereais em moinhos que utilizavam como energia as marés.
Hoje utilizam-se moinhos que usam energia de centrais nucleares, carvão ou petróleo.
E grita-se contra as alterações climáticas.
1. Estás
disposto a prescindir das fraldas descartáveis para os bebés e usar fraldas de
pano de algodão?
2. Estás
disposto a prescindir das latas de refrigerantes?
3. Estás
disposto a prescindir dos restaurantes fast-food e todos os descartáveis que lá
servem?
4. Sabendo
que a produção bovina é uma das maiores fontes de poluição do planeta, estás
disposto a reduzir drasticamente o teu consumo de carne bovina, incluindo
hamburgers?
5. Mandar
para a sucata os carros a gasóleo e gasolina e substituí-los por carros
eléctricos, que são mais caros e continuam a poluir tem sido a sugestão dos
governos e associações de consumidores para combater a poluição, apoiando os
fabricantes destes carros (em alguns casos, os mesmos que falsificam
dispositivos dos automóveis para fingir que não emitem derivados do carbono).
Estarias disposto a prescindir do carro, utilizando transportes públicos,
bicicletas ou ir a pé? Não em relação a grandes viagens, mas em relação à
organização do quotidiano?
6. Estás
disposto a mandar o lanche para a escola em marmitas ou caixas apropriadas,
evitando os descartáveis?
7. Estás
disposto a conservar o mesmo telefone até ele deixar de funcionar, não o
trocando só por haver um modelo novo?
8. Estás
disposto a deitar mais cedo e levantar mais cedo, para aproveitar a luz solar e
poupar no consumo de electricidade?
9. Estás
disposto a não deitar fora (enviar para reciclar é deitar fora) roupa só porque
é do ano passado, está fora de moda ou já não te podes ver com aquilo e comprar
roupa nova?
10. As crianças estão a habituar-se a usar papel
como se ele fosse inesgotável, fazem letras e algarismos de 5 ou 10 centímetros
e ocupam uma página com meia dúzia de palavras. E não escrevem nas costas. No
fim das aulas, os cadernos que estão a meio, vão para o lixo. Estás disposto a
ensinar os teus filhos a usar o papel como se ele fosse tão caro como era há
cinquenta anos?
11. Estás disposto a não mandar electrodomésticos
para a sucata só porque sim e a usá-los enquanto durarem mesmo que já estejas
cansado de os ver?
12. E os telemóveis. Falo neles outra vez.
13. Estás disposto a não mudar o mobiliário da casa
só para dar um aspecto mais novo, desperdiçando madeira, plásticos e metais que
podiam continuar a ser usados?
14. Peter Brabeck-Letmathe, presidente da Nestlé,
defende a opinião macabra de que todas as fontes de água potável, natural ou
mineral, deveriam ser privatizadas e pagas por quem as quiser consumir. Sabemos
isto e continuamos a comprar garrafas de água em vez de termos uma garrafa ou
cantil para encher na torneira. E tu?
15. Uma gota de água vale mais que ouro em países
africanos onde as crianças morrem de sede. Tu que deixas a torneira aberta
enquanto vais abrir a porta da rua, ou fazer outra coisa qualquer, és capaz de
ter compaixão dessa gente que está em extinção por falta de água e não secares
também o teu país e as reservas potáveis do planeta?
16. A comida que desperdiças em casa é a que falta
àqueles que morrem de falta. Estás disposto a agir?
É fácil ir
para a rua fazer barulho. Até pode ser divertido ir com o grupo de amigos.
Gritar e exibir cartazes contra os que matam o planeta. Mas não estarás a
manifestar-te contra ti mesmo?
Deixemo-nos
de ser hipócritas e cuidemos da nossa casa comum. De uma vez.
Versão em inglês: https://nivelar-por-cima.blogspot.com/2019/09/demonstration-against-whom.html
Orlando de
Carvalho