Esmola é uma quantia em dinheiro
ou um favor que alguém dá a outrem por caridade e sem esperar retribuição. Este
conceito não costuma englobar subsídios envolvidos em rede de corrupção, porque
neste caso tanto corrupto como corruptor esperam compensação. Mas podem
incluir-se nesta ideia as rifas. Compram-se rifas em quermesses, aos
escuteiros, nas associações e sociedades recreativas, com o único objectivo de
ajudar. Quem compra uma rifa numa festa da escola por um euro, ou metade, não o
faz a pensar na possibilidade de ganhar o prémio e, tanto assim é que, muitas
vezes o prémio ganho é devolvido para novo sorteio. A questão aqui é lúdica e
não de caridade propriamente dita.
A nossa reflexão dirige-se para
outros patamares. Como devemos encarar as rifas que finalistas universitários
vendem nas ruas para angariar dinheiro para as festas de final de curso? Doutores
vergados à caridade alheia para terem dinheiro para mais uns litros de álcool e
outras futilidades pouco próprias de doutores? Não damos e temos vergonha de
ver jovens, na força da vida, descerem tão baixo.
Igual atitude tomamos em relação
a rifas vendidas por bombeiros e similares angariações de fundos. Os bombeiros
são um pilar social e como tal devem ser socialmente sustentados. Pelo governo
central, pela administração local, pelos próprios cidadãos que se querem
comprometer e se fazem sócios da corporação de bombeiros. Não faz sentido, nem
é digno, uma pessoa que tira de si, da sua família, o tempo para servir o
próximo, nalguns casos gratuitamente, tenha de andar a esmolar para realizar
esse serviço social.
O mesmo se aplica aos escuteiros
que sistematicamente encontramos a vender rifas. Na rua. Não nos parece que
seja maneira de educar crianças. Quem compra rifas na rua, normalmente sem meio
de reclamar o eventual prémio está simplesmente a dar uma esmola.
Aspiramos a uma sociedade mais
digna, mais íntegra, mais nobre. Não queremos um Estado autocrático que tudo
controla, mas precisamos de uma sociedade que se auto-regule e assuma as
responsabilidades para com os indivíduos e com os grupos que necessitam de
apoio e que não devem andar de mão estendida.
Orlando de Carvalho
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