terça-feira, 3 de setembro de 2019

Rifas não são esmola mas às vezes…


Esmola é uma quantia em dinheiro ou um favor que alguém dá a outrem por caridade e sem esperar retribuição. Este conceito não costuma englobar subsídios envolvidos em rede de corrupção, porque neste caso tanto corrupto como corruptor esperam compensação. Mas podem incluir-se nesta ideia as rifas. Compram-se rifas em quermesses, aos escuteiros, nas associações e sociedades recreativas, com o único objectivo de ajudar. Quem compra uma rifa numa festa da escola por um euro, ou metade, não o faz a pensar na possibilidade de ganhar o prémio e, tanto assim é que, muitas vezes o prémio ganho é devolvido para novo sorteio. A questão aqui é lúdica e não de caridade propriamente dita.
A nossa reflexão dirige-se para outros patamares. Como devemos encarar as rifas que finalistas universitários vendem nas ruas para angariar dinheiro para as festas de final de curso? Doutores vergados à caridade alheia para terem dinheiro para mais uns litros de álcool e outras futilidades pouco próprias de doutores? Não damos e temos vergonha de ver jovens, na força da vida, descerem tão baixo.
Igual atitude tomamos em relação a rifas vendidas por bombeiros e similares angariações de fundos. Os bombeiros são um pilar social e como tal devem ser socialmente sustentados. Pelo governo central, pela administração local, pelos próprios cidadãos que se querem comprometer e se fazem sócios da corporação de bombeiros. Não faz sentido, nem é digno, uma pessoa que tira de si, da sua família, o tempo para servir o próximo, nalguns casos gratuitamente, tenha de andar a esmolar para realizar esse serviço social.
O mesmo se aplica aos escuteiros que sistematicamente encontramos a vender rifas. Na rua. Não nos parece que seja maneira de educar crianças. Quem compra rifas na rua, normalmente sem meio de reclamar o eventual prémio está simplesmente a dar uma esmola.
Aspiramos a uma sociedade mais digna, mais íntegra, mais nobre. Não queremos um Estado autocrático que tudo controla, mas precisamos de uma sociedade que se auto-regule e assuma as responsabilidades para com os indivíduos e com os grupos que necessitam de apoio e que não devem andar de mão estendida.

Orlando de Carvalho

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