terça-feira, 20 de agosto de 2019

Impedir cortar uma estrada por onde possa passar algum socorro

O nosso amigo Padre António Augusto fez esta publicação no Facebook.
Reproduzimo-la com a intenção de que possa ser útil a algum leitor. 
Com a maior leveza e sem pensar impedimos tantas vezes salvar uma vida, um socorro atempado, prejudicamos de tantas maneiras os outros porque o nosso carro está a trancar outro carro, ou a impedir a passagem de carros ou pessoas, estacionado em cima do passeio, porque não pensamos e afinal estamos a prejudicar pessoas. Mais gravemente ou menos gravemente. Sejamos conscientes, pelo menos mais conscientes.

O texto do Padre António Manuel que também está aqui: https://www.facebook.com/antonioaugusto.sousa.3/posts/2401138113495307

Olá, Zé Carlos.
Foste, e és, o meu único afilhado de Batismo. Afilhadas tive duas e ainda tenho uma, graças a Deus.
A mana Augusto exigiu: «Então, se tenho um irmão Padre, ia escolher outro padrinho para o meu filho?!. Serás tu e a nossa mãe. Assim, fica bem entregue».
E ficaste até aos 16 anos, até àquele fatídico dia 20 de agosto em que, na companhia de teus primos e de tua tia. foste para a praia do Rio, em Ponte da Barca, terra de teu pai. onde estavas de férias com ele em casa de tua avó paterna.
E um remoinho atraiçoou-te, mesmo sendo, como eras, um bom nadador. Tua tia delirava com as tuas piruetas na água e só tardiamente percebeu que já não eram brincadeiras, mas que te estavas a afogar...
Os bombeiros estavam perto, mas era dia de festa na Vila e os bombeiros estavam no desfile, tendo ficado o quartel desguarnecido, apenas com dois bombeiros e um velho carro. Ainda te tiraram da água com vida, mas o desfile impediu que chegasses depressa, COMO ERA NECESSÁRIO, ao hospital.
«Por dois minutos, salvávamos o "puto"» (desculpa, mas foi isto mesmo que o médico de serviço, carinhosamente, te chamou, desgostoso por não ter conseguido salvar-te...)
Eu estava numa semana Missionária com os jovens em Ribeira de Pena. Lá os deixei, entregues à Irmã Maria José Xara Brasil, e corri para Baguim, ao encontro de tua mãe, a minha mana Ana Augusta
Cheguei pelas 04h. Já nem suportava abrir os olhos. Deitei-me e descansei até às 6h. Levantei-me e parti com ela para Ponte da Barca... A tua mãe rezou todo o caminho em voz alta, para que eu não adormecesse.
Não sei como ela suportou tanta dor! Mas sei que se recusou a vestir de preto, sei que quis proclamar a Palavra de Deus na celebração do teu funeral e sei também que, depois disso tudo, começou a morrer, nunca mais foi a mesma...
Eu não aceitei mais nenhum convite para ser padrinho de Batismo.
Tive medo de voltar a sentir a mesma dor.
Quis aprender alguma coisa com a tua morte.
Fiquei sensível a muitas coisas, sendo talvez a mais importante, tentar impedir a todo o custo cortar uma estrada por onde possa passar algum socorro... Sabe-se lá que pressas possa haver.
Continuo a ouvir o desolado médico: «Por dois minutos, salvávamos o "puto"». Sabes, Zé, ele só o disse assim, deste jeito, porque não me conhecia e muito menos imaginava que eu fosse teu padrinho....
A tua mãe já está contigo. Custou-lhe tanto esperar até aos 62 anos por um cancro que a levou para ti!
O teu pai cá continua a cuidar da tua mana e da filha dela, que é Ana. em homenagem à tua mãe.
Se aí no Céu também se dão beijos, dá-lhe um beijo por mim, com saudades.
Até um dia, com muito amor..
O teu padrinho.




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