domingo, 4 de agosto de 2019

Loures longe dos eleitores (excepto em campanha)


Quando falta a água, o que qualquer pessoa faz é ligar para os Serviços para dar conta da situação e saber informação sobre o que se passa.
Há mais de 50 anos que me lembro de ser assim. Por todo o país.
Ou a pessoa tem o número de telefone numa lista de números de emergência ou vai procurá-lo numa factura arquivada.
Foi o que sucedeu comigo há dias. Não havia água a meio da noite, não havia água pela manhã e telefonei para os SIMAR, Serviços Intermunicipalizados de Água e Resíduos de Loures e Odivelas.
As multinacionais que não querem perder tempo com os clientes, porque têm muitos e não lhes importa perder mais um, ou menos um, inventaram um sistema de atendimento telefónico automático em que as pessoas são completamente ridicularizadas e encaminhadas de umas mensagens gravadas para outras sem qualquer hipótese de resolver o seu problema ou de encontrar uma solução alternativa.
Foi o que sucedeu, uma vez que câmaras municipais grandes como a de Loures se podem dar ao luxo de se organizarem e agir como multinacionais, das grandes, em rodos os aspectos. Talvez se distingam por não usarem offshores, mas no resto…
Sucintamente as gravações informavam-me que havia uma rotura de água em Loures que seria reparada até ao meio-dia. E mandavam-me procurar mais detalhes na página da Internet.
Loures… abrange Ponte de Lousa, Moninhos, A-dos-Cãos, Montemor, Mealhada, Infantado, Fanqueiro, Cabeço de Montachique, Bucelas, Tojais… quilómetros e quilómetros…
Finalmente resolvi o assunto porque sou um privilegiado. Eu tenho Internet e foi fazer a tal consulta, que me indicou onde era a rotura, mesmo perto da casa em que eu me encontrava sem água.
Um grande problema foi para a D. Joana que mora em Loures, mesmo ao lado da Câmara Municipal, mas vive sozinha, tem 70 anos e não tem Internet.
Também metade dos vizinhos que moram no meu prédio não tem Internet.
Nem aquele velhote, o senhor Andrade, que vive numa casa isolada na zona de Fanhões.
Coitados!
A Câmara de Loures e os Serviços Municipalizados não contam com eles.
Quer dizer, para receber as contas da água, dos serviços de remoção de resíduos, para isso contam.
E quando se fala em eleições, contam, e muito, com todos, com os que têm Internet e com os coitaditos (será assim que os nomeiam nas reuniões privadas da gestão autárquica?).
Loures informatiza-se, agiliza-se e deixa para trás as pessoas, os mais fracos, os que nem têm plateia que os escute.

Imagem: o site com a informação para os privilegiados

Orlando de Carvalho


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