domingo, 22 de setembro de 2019

Manifestação contra quem?

Manifestação em Berlim contra as alterações climáticas

A eleição, pela primeira vez, de deputados do partido ecologista e pacifista, Os Verdes, para o Bundestag, o parlamento alemão, sucedeu em 1983. O equilíbrio tradicional de forças na Europa sofreu então o primeiro grande choque dos tempos recentes.

Vinte anos antes, o Presidente John Kennedy afirmara que “O vínculo essencial que nos une é que todos nós habitamos neste pequeno planeta. Todos nós respiramos o mesmo ar. Todos nos preocupamos com o futuro de nossos filhos. E somos todos mortais” exprimindo um sentimento de preocupação essencialmente ambientalista. A declaração estava contida no seu discurso "Estratégia para a Paz", 1963.

As preocupações com o ambiente mais ou menos premonitórias assumiram um carácter global quando todos perceberam que as espécies animais e vegetais estavam a desaparecer devido à acção malévola ou, no mínimo, despreocupada e imprudente das comunidades humanas e das autoridades constituídas.

Atitudes como as do Presidente norte-americano Donald Trump não revelam estupidez nem ignorância, mas antes ganância. Trump está disposto a sacrificar a humanidade actual e as futuras, ao lucro que obtém com a exploração económica do que não pode ser explorado porque é bem comum e limitado. Atitudes do mesmo género têm sido assumidas por regimes comunistas ou por Jair Bolsonaro. A avareza leva os extremos a tocarem-se e fundirem-se.

Sociedades de reciclagem de materiais vivem de subsídios de governos ou de entidades supragovernamentais, não se preocupando minimamente com o serviço público que deveriam prestar, mas apenas em receber lucro e despender o mínimo possível, e se possível, sem reciclar verdadeiramente.

A listagem de falcatruas encheria certamente vários livros.

Então, a defesa do ambiente passou a ser um assunto na moda e como os opositores do ambiente coincidem na maior parte das vezes com não-LGBT, passou a ocupar lugar central em todos os sectores da política.

  A adolescente que provocou uma greve mundial

Surgiu então um novo fenómeno: Greta Thunberg. Uma adolescente sueca que lançou um movimento de greves estudantis pela defesa do ambiente, que segundo alguns estudiosos não passou de um golpe dos grupos económicos, também eles gananciosos, que a utilizaram para obter proveitos financeiros, ganhar dinheiro à custa dos que pensam estar a salvar o planeta.

O movimento da pequena Greta, sua mãe e capitalistas apoiantes, cresceu. Tomou proporções a nível de todo o planeta com gente a vir para a rua em todos os continentes para se manifestar. Comoviam certamente os pais, ou quem fosse, a participar nas manifestações de rua com carrinhos de bebé.

Se essas pessoas estão tão decididas a salvar o planeta, deixo algumas questões verdadeiramente práticas que podem ser menos ruidosas mas que serão muito bem acolhidas pelo planeta e pelas gerações vindouras. São questões que coloco a cada um dos defensores do planeta Terra, da mãe Natureza.


Ao longo dos tempos, as pessoas utilizaram diversos aspectos da Natureza como fonte de energia.
Fazia-se farinha moendo cereais em moinhos que utilizavam como energia as marés.
Hoje utilizam-se moinhos que usam energia de centrais nucleares, carvão ou petróleo.
E grita-se contra as alterações climáticas.






1.  Estás disposto a prescindir das fraldas descartáveis para os bebés e usar fraldas de pano de algodão?

2.  Estás disposto a prescindir das latas de refrigerantes?

3.  Estás disposto a prescindir dos restaurantes fast-food e todos os descartáveis que lá servem?

4.  Sabendo que a produção bovina é uma das maiores fontes de poluição do planeta, estás disposto a reduzir drasticamente o teu consumo de carne bovina, incluindo hamburgers?

5.  Mandar para a sucata os carros a gasóleo e gasolina e substituí-los por carros eléctricos, que são mais caros e continuam a poluir tem sido a sugestão dos governos e associações de consumidores para combater a poluição, apoiando os fabricantes destes carros (em alguns casos, os mesmos que falsificam dispositivos dos automóveis para fingir que não emitem derivados do carbono). Estarias disposto a prescindir do carro, utilizando transportes públicos, bicicletas ou ir a pé? Não em relação a grandes viagens, mas em relação à organização do quotidiano?

6.  Estás disposto a mandar o lanche para a escola em marmitas ou caixas apropriadas, evitando os descartáveis?

7.  Estás disposto a conservar o mesmo telefone até ele deixar de funcionar, não o trocando só por haver um modelo novo?

8.  Estás disposto a deitar mais cedo e levantar mais cedo, para aproveitar a luz solar e poupar no consumo de electricidade?

9.  Estás disposto a não deitar fora (enviar para reciclar é deitar fora) roupa só porque é do ano passado, está fora de moda ou já não te podes ver com aquilo e comprar roupa nova?

10. As crianças estão a habituar-se a usar papel como se ele fosse inesgotável, fazem letras e algarismos de 5 ou 10 centímetros e ocupam uma página com meia dúzia de palavras. E não escrevem nas costas. No fim das aulas, os cadernos que estão a meio, vão para o lixo. Estás disposto a ensinar os teus filhos a usar o papel como se ele fosse tão caro como era há cinquenta anos?

11. Estás disposto a não mandar electrodomésticos para a sucata só porque sim e a usá-los enquanto durarem mesmo que já estejas cansado de os ver?

12. E os telemóveis. Falo neles outra vez.

13. Estás disposto a não mudar o mobiliário da casa só para dar um aspecto mais novo, desperdiçando madeira, plásticos e metais que podiam continuar a ser usados?

14. Peter Brabeck-Letmathe, presidente da Nestlé, defende a opinião macabra de que todas as fontes de água potável, natural ou mineral, deveriam ser privatizadas e pagas por quem as quiser consumir. Sabemos isto e continuamos a comprar garrafas de água em vez de termos uma garrafa ou cantil para encher na torneira. E tu?

15. Uma gota de água vale mais que ouro em países africanos onde as crianças morrem de sede. Tu que deixas a torneira aberta enquanto vais abrir a porta da rua, ou fazer outra coisa qualquer, és capaz de ter compaixão dessa gente que está em extinção por falta de água e não secares também o teu país e as reservas potáveis do planeta?

16. A comida que desperdiças em casa é a que falta àqueles que morrem de falta. Estás disposto a agir?



É fácil ir para a rua fazer barulho. Até pode ser divertido ir com o grupo de amigos. Gritar e exibir cartazes contra os que matam o planeta. Mas não estarás a manifestar-te contra ti mesmo?



Deixemo-nos de ser hipócritas e cuidemos da nossa casa comum. De uma vez.




Versão em inglês: https://nivelar-por-cima.blogspot.com/2019/09/demonstration-against-whom.html



Orlando de Carvalho







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