quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Globalização do fabrico e comércio


 

Quando os grupos financeiros começaram a engolir as pequenas e médias empresas e quando as grandes empresas comeram as concorrentes de menor dimensão, iniciou-se um processo no mundo capitalista que pouco diferia do que tinha existido na União Soviética e satélites.

A diversidade e originalidade que era apanágio dos intervenientes no processo comercial começaram a ser substituídas pela estratégia dos espertos que com falta de imaginação e sofreguidão de enriquecimento rápido descobriram que era mais fácil copiar. 

É visível o que aconteceu com a indústria automóvel. Actualmente, os carros são todos iguais, independentemente da fábrica onde foram produzidos e da marca que ostentam. Ninguém ousa colocar no mercado um Anglia Fascinante precisamente por ser diferente dos outros carros.

 

 

E provavelmente ninguém compraria um carro completamente diferente dos outros.

O mesmo aconteceu com as tintas, os detergentes, os produtos alimentares.

Uma grande empresa de retalho, depois de adquirir outras mais pequenas que lhe faziam concorrência, deixa de comercializar todos os produtos que todas elas vendiam. Rentabilizam-se reduzindo, por vezes de modo dramático, a variedade que é oferecida aos clientes.

A fábrica de bolos e bolachas, por mais apreciados que os seus produtos fossem pelo consumidor final, deixou de ter clientes quando o retalhista retiurou da linha de venda os seus produtos. Depois abriu falência e criou um certo número de desempregados. Algumas marcas subsistiram. Fábricas de chocolates foram absorvidas, por vezes o negócio é apresentado como fusão, por fábricas maiores. Até chegar uma multinacional que compra todas as fábricas que resistiram.

Quem se recorda daqueles  bombons tão característicos da Marquise? Das Belinhas da Aliança? Das bolachas Shortcake que a Aliança fabricava? Dos Drops Noivos e da imensa gama de chocolates da Regina? Dos chocolates da Lilys (acho que não era esta a ortografia), da fábrica Excelsior? Das miniaturas em chocolates da Fábrica Celeste ou da Tágide? Hoje temos meia dúzia de referências de duas ou três fábricas estrangeiras que vendem umas coisas que nem chocolate são, mas que vendem porque os cidadãos agem como se fizessem parte de um rebanho. O pastor e o cão (televisão e outdoors) indicam-lhes o que devem comprar e comer e assim fazem. Comem todos a mesma pasta para barrar o pão (e com outras utilidades sugeridas, para rentabilizar ao produtor), menosprezam os pequenos restaurantes de comida portuguesa, que vão acabando, para irem todos à mesma cadeia internacional que vende comida igualzinha de norte a sul do país e mesmo no estrangeiro. Como conseguirão isso? Aquilo é comida ou… Assim surgiu a doença das vacas loucas que se propagou aos humanos, um assunto que a partir de dado momento foi silenciado por toda a gente, mesmo a comunicação social mais atrevida. Terá sido caro calar toda a gente?

Sabe onde se vendem botões? Mesmo que conheça algum lugar, acha que é uma loja com futuro? Conhece alguma loja que venda Eisbein ou Vão Fumado, em Portugal?

Sabe que a União Europeia (ou seria ainda CEE?) financiou a compra de máquinas para partir pinhão com casca? Três empresas aproveitaram e compraram três dessas máquinas. Cada uma era suficiente para partir todo o pinhão que Portugal conseguia produzir. Quem ganhou com o assunto? E o pinhão português, sobre comprido e saboroso acabou no mercado nacional, vai para exportação bem vendido. Para nós, vem um pinhão esférico, sem sabor, produzido na China. Sim, foi um negócio da China.

Se quiser comprar pele curtida para fazer trabalhos manuais, vai ter alguma dificuldade, embora a vá encontrar no mercado ainda durante algum tempo. Provavelmente importada de Espanha ou da China.

Ah! E os vimes e as vergas? O artesão nacional acabou. Nem Ministério da Cultura, nem da Economia, nem câmaras municipais. Falam muito, mas deixam tudo isso que faz parte da nossa cultura, juntamente com a língua portuguesa, morrer. Vimes e vergas chegam da China. Por vezes através de Espanha. E chegam barato, porque em Portugal existe um ordenado mínimo nacional, na China… não sei se devemos chamar escravatura às leis laborais na China.

Também as cerejas, as belíssimas cerejas de Portugal são vendidas para Espanha e revendidas para Portugal. As melhores ficam em Espanha, as pequeninas são revendidas de volta a Portugal, deixando lá o maior lucro.

 

Vem o assunto a propósito de as grandes empresas estarem a anunciar a redução das referências produzidas e comercializadas. Depois de comprarem as pequenas empresas, de as sufocarem, matam a cultura e os cidadãos nos seus anseios. Só se pode comer o que eles entendem. Mas não seria assim se não cometessem o crime de asfixiar e tomar as empresas pequenas e laboriosas, imaginativas e criadoras de emprego real.

 

Orlando de Carvalho

 

Reproduzimos o artigo https://executivedigest.sapo.pt/da-coca-cola-a-danone-gigantes-estao-a-limpar-portefolio-e-ha-produtos-que-ja-nao-voltam-as-prateleiras/

 

Da Coca-Cola à Danone: Gigantes estão a ‘limpar’ portefólio e há produtos que já não voltam às prateleiras, , 28 Out 2020

 

As grandes empresas do setor alimentar e bebidas estão a ajustar as suas estratégias em tempo de pandemia, o que explica porque estão a avançar para a eliminação de marcas que não atendem às suas expectativas, incluindo as que adquiriram anteriormente devido à sua popularidade, até as que tinham aumentos expressivos em número de consumidores e vendas.

A aquisição de marcas de nicho e a criação de novos sabores têm sido uma parte fundamental das estratégias das empresas de alimentos nos últimos anos.

A Coca Cola, por exemplo, confirmou que eliminará cerca de metade das suas marcas para se concentrar apenas nos produtos de melhor desempenho e otimizar suas operações, segundo noticia o ‘Business Insider’.

A decisão da Coca-Cola de cortar cerca de 200 marcas, ou metade de seu portfólio, inclui muitas marcas como Tab, um refrigerante diet que há décadas tem resultados menos bons. A Coca-Cola também quer abrir mão de marcas locais, em diferentes partes do mundo, que revelem vendas limitadas.

Mas a gigante dos refrigerantes não está sozinha neste reposicionamento: outros fabricantes de alimentos e bebidas, incluindo a Nestlé e a Danone, estão a cortar, vender ou livrar-se de outras formas do que acreditam serem marcas de baixo desempenho.

Embora algumas empresas já tivessem dado nota de que pretendiam reduzir os seus portefólios antes da chegada da pandemia da Covid-19, todas admitem que a pandemia as está a forçar a reconsiderar que marcas e produtos individuais vale a pena produzir.

Em muitas partes do mundo, os gastos dos consumidores nos supermercados, e no retalho em geral, permanecem mais altos do que eram antes da pandemia. “E se as empresas mudaram a produção para atender às novas necessidades, muitas também estão a cortar marcas e a investir em produtos que consideram mais adequados ao mundo Covid-19, disse Nick Johnson, analista da Morningstar, ao ‘Business Insider’.

Nestlé

A  Nestlé, aquando da recente apresentação dos seus resultados, referentes aos 9 meses deste ano, ainda está a rever o negócio e espera decidir o que fará no início de 2021. A água engarrafada é uma categoria-chave para a gigante suíça de bens de consumo, mas o CEO Mark Schneider disse, a analistas, que está mais interessado em marcas de água mineral de ponta, como a San Pellegrino, bem como água engarrafada que fornece aos consumidores algum benefício além hidratação, como a Pure Life Plus. Em contraste, o seu negócio de água na América do Norte depende fortemente de rótulos de água simples, como Deer Park e Arrowhead.

Danone

A gigante francesa de laticínios anunciou uma revisão de seus negócios, a 19 de outubro passado, num processo que, segundo avançou o CEO Emmanuel Faber, vai avaliar as marcas que possuem, bem como produtos individuais. Muitos dos clientes de retalho da Danone sofreram quebras nas vendas, frisou Faber, acrescentando que as marcas de nicho também perderam o seu brilho durante a pandemia. Entre as marcas que a Danone poderá abater estão a Horizon & Wallaby, que vende leite orgânico e iogurte, bem como seu negócio de nutrição médica, que vende fórmulas infantis e alimentos embalados para pacientes hospitalares, segundo o analista da Jefferies Martin Deboo.

Mesmo antes de anunciar oficialmente a revisão, a Danone estava a ponderar fazer mudanças no portefólio, destacando-se desde logo a decisão, no início deste mês, de vender a sua participação na marca japonesa de iogurte Yakult.

Mondelez

O CEO da Mondelez, Dirk Van de Put, já anunciou que a fabricante de salgados quer cortar 25% dos seus produtos, ainda este ano. No todo, as marcas que planeia cortar representam cerca de 2% das vendas. As reduções começaram como uma medida temporária para manter os produtos de vendas mais rápidas da empresa, que incluem biscoitos Oreo, em stock nos retalhistas, detalhou Van de Put. Mas muitos vão tornar-se permanentes, acrescentou. Os executivos da Mondelez não apontaram itens específicos que já tenham decidido cortar mas indicaram que as reduções se concentram em produtos individuais, não em marcas inteiras, e envolvem itens em todas as suas diferentes zonas geográficas.

 

 

 

 

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