segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Bandidos ou terroristas, quem atacou crianças de Loures?

Foi há dois anos e meio.

Estávamos em Julho de 2018. Ano climático sui generis. As Ilhas Britânicas passavam um Verão como não havia memória, o perene verde dos campos e dos parques sumiu até ficar tudo seco. O mau tempo no sul da Europa marcava presença com neve e inundações.

Enfim, era tempo de férias, para crianças e adultos e, quando assim é, há que aproveitar o melhor possível. Com consciência que o melhor para uns não é necessariamente o melhor para todos.

Em Loures, a câmara municipal tinha organizado um esquema de férias para crianças e adolescentes. O que já era habitual por parte de várias entidades locais, câmara e juntas de freguesia. Para os mais novos é uma possibilidade de maior e melhor recreio naquelas semanas de férias, os pais ficam descansados em relação à segurança dos filhos e o custo não se compara com as centenas ou milhares de euros exigidos por entidades privadas, como colégios, entre outros, que organizam actividades do mesmo género.

Diariamente, durante o período estabelecido, os autocarros a cargo da câmara de Loures, recolhiam crianças e adolescentes, à hora combinada, de manhã cedo, e descarregavam a miudagem no mesmo local ao final do dia.

Actividades de manhã, de tarde, almoço, lanches…

 

Certo dia nem tudo correu bem. Aliás, correu muito mal. Aliás, podia ter corrido bem pior. Uma ocorrência grave colocou em perigo a vida de, pelo menos, dezenas de crianças e adolescentes. Ocorrência grave e do género secreto, leia-se serviços de espionagem, como acontecia com os acidentes e crimes no tempo do Estado Novo e de que todos os mais velhos estamos bem recordados.

Por que razão venho recordar e publicar estes factos quando são já passados dois anos e meio? Porque quis dar algum (mais que suficiente) tempo aos responsáveis para esclarecerem o ataque horroroso de que foram vítimas as crianças que famílias do município de Loures confiaram à Câmara Municipal. Mas quando dois anos e meio não é tempo suficiente para esclarecer, ou pelo menos divulgar, uma situação com contornos terroristas de ataque a crianças, aqui, onde moramos, no meio das nossas casas e escolas, percebo que o verdadeiro objectivo é deixar cair no esquecimento. Como se fazia n antigamente. Inundações de Loures, Estação ferroviária do Cais do Sodré, Angoche… não tem fim esta série de ocorrências graves que foram ocultadas do povo. Mas isto não devia acontecer também em democracia.

O autocarro ia levantar crianças e adolescentes ao fim de uma manhã de karts, paintball, que interessa qual foi a diversão nessa manhã?

O autocarro cheio com as nossas crianças foi cercado por bandidos, alguns de rosto vendado, de armas na mão apontadas ao veículo, sob ameaça proibindo que lhes tirassem fotografias. E os miúdos iam obedecer?

Valeu, em primeiro lugar, o sangue frio do motorista para usar o telemóvel e pedir socorro.

Imagine-se uma criança de 10 ou 12 anos a passar por uma cena destas com armas apontadas a si!

Alguns fizeram mesmo fotografias.

Passado um tempo que pareceu interminável, chegou a polícia e responsáveis da presidência da câmara. Pareceu que a polícia fez buscas nas ruas circundantes… os bandidos tinham-se escapado. O autocarro regressou escoltado. Os pais ou encarregados de educação foram reunidos e informados (informados?). A palavra de ordem foi manter tudo em segredo. Não contar a ninguém o que se tinha passado. Foram as instruções das autoridades policiais e autárquicas.

Não se percebe ainda hoje quem tentaram proteger. Os bandidos encapuçados? O gangue a que esses fora-da-lei pertenceriam eventualmente? Os mandantes? O bom nome da autarquia e autarcas?

Mas Loures não é o Far West!

O medo instaurado nas crianças e famílias deveria ter um limite de tempo e ser esclarecido com a maior brevidade possível. Mas não foi. Porém, trata-se de um crime público provavelmente de cariz terrorista, pelo que deveria ser divulgado e o público bem informado. Em causa está agora qualquer criança do município, qualquer criança que os pais confiem em tempo de férias, ou em tempo lectivo.

O secretismo representará um regresso ao tempo da censura e em que tudo tinha que ser em segredo porque as paredes tinham ouvido? Não há responsabilidade criminal dos autores deste encobrimento e falta de esclarecimento, tanto os autarcas como as autoridades policiais?

Estamos em tempo de criar nas nossas crianças e jovens um espírito de confiança e esperança no futuro e na sociedade envolvente. Deixar cada criança crescer em liberdade e segurança confiante e não desenvolver nos mais novos um medo constante, um espírito de terror. Odiamos o Terror da Revolução Francesa e o do Estado Novo. Gostávamos que o espírito de que a Felicidade é possível assistisse a todos os portugueses.


 

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