terça-feira, 11 de setembro de 2018

É uma vergonha que haja padres pedófilos



A minha mais antiga reminiscência de abusos sexuais



No início da década de 1960, era eu um catraio sempre à escuta e de olhos abertos, como é natural nos catraios. Havia muitas conversas que os adultos não tinham perto de crianças, ao contrário do que sucede neste século XXI. Desses assuntos, os adultos falavam à parte, em segredo, em linguagem codificada, muitas vezes bastando proferir a frase mais aborrecida para nós crianças:

- Agora não, que os tectos estão baixos!

Claro que o suposto tecto baixo poderia reflectir eco da conversa e ela chegar aos meus ouvidos. É a interpretação que faço da enigmática frase.

Não sei se alguma vez passou pela cabeça de alguém que fosse possível ocultar tudo de uma criança. Pode criar-se um ambiente de solenidade, de respeito, sentido de decência, mas basta muitas vezes uma palavra, até metade de uma palavra, para a criança elaborar uma história, que frequentemente coincide com a realidade. Outras vezes apenas inventa uma novela sem sentido.

A história que vou contar, foi um puzzle que eu construi a partir de palavras e frases soltas.

No bairro alfacinha em que morávamos havia um consultório em que dava consultas um médico com o mesmo nome e apelido que eu. Claro que eu achava a coincidência engraçadíssima, embora não me lembre de alguma ter visto do tal médico mais que a placa na porta da rua.

Ora, o que aconteceu foi um escândalo. Correu a notícia (que não era boato) de que o tal homem se aproveitava especialmente de sopeiras, isto é, criadas de servir, ou, na linguagem actual, empregadas domésticas. Nessa época eram especialmente moças chegadas das aldeias que vinham servir em casas de pessoas que tinham possibilidade de lhes pagar ou, mais frequentemente, de as sustentar em regime de internato, dando-lhes cama e permitindo-lhes comer em sua casa, em troca de todo o trabalho doméstico. Muitas vezes não passavam de Marias Papoilas que chegavam sozinhas à cidade e sem perceberem eram logo recrutadas para a prostituição. A muitas delas valeu a acção de agências como a ACISJF[1] que tinha colaboradores nas próprias estações ferroviárias em Lisboa que agiam antes dos recrutadores de prostitutas. Mas este não é o caso da minha história.

Ora, o tal médico, grande devasso como mais tarde se revelaria, sempre que atendia uma dessas raparigas serviçais, que por norma eram honestas, analfabetas e ignorantes, confiando plenamente no senhor doutor, mandava-as porem-se todas nuas para as consultar à maneira dele. Uma delas não terá guardado o pretendido segredo e ultrapassou a vergonha passada e o assunto correu todo o bairro, de boca em boca, mas sempre murmurado ao ouvido, como se quem tomava conhecimento devesse sentir-se envergonhado enquanto o patife gozava e se divertia.

Eu era miúdo e não sei como o caso acabou, mas a tal placa não desapareceu e o médico deve ter continuado as suas consultas. E abusos, claro.





É proibido proibir



Uma mão cheia de anos depois, acontecia o Maio de 68, em França, onde emergiu como dirigente Daniel Cohn-Bendit, conhecido por Dany Rouge, pelas suas inclinações pró-comunistas, então com 23 anos. Este revolucionário subiu na vida até ser deputado europeu. Ele escreverá no livro Le Gran Bazar, em 1975, e referindo-se ao tempo em que trabalhara num infantário, as seguintes palavras:

Aconteceu-me várias vezes que alguns miúdos me abrissem a braguilha e começassem a acariciar-me. Eu reagia de maneira diferente segundo as circunstâncias, mas o desejo das crianças era um problema. Perguntava-lhes: 'Por que razão não jogam entre vocês, por que razão me escolheram, a mim, e não aos outros miúdos?' Mas se eles insistiam, então eu acariciava-os.

E há outros textos no mesmo sentido do mesmo autor.

Quando cerca do ano 2000 a comunicação social trouxe a lume este texto, Cohn-Bendit queixou-se de ser alvo de perseguição política e defendeu-se alegando que os pais das crianças do infantário terão testemunhado que nunca terão existido abusos sexuais. E continuou como parlamentar, vitimando-se por rebuscarem as malvadezes da sua juventude.



E a pedofilia nasceu



Por volta do ano 2000, a pedofilia começou a existir. Até então, os actos pedófilos não eram levados em conta porque ficavam dentro de casa ou as vítimas pertenciam às classes pobres e sem voz. O caso Ballet Rose retratado na série de televisão homónima de Moita Flores põe em evidência o quão pouco eram consideradas as crianças e os abusos e violações de que eram alvo. Sabemos como a economia de países como a Tailândia depende do turismo sexual com especial ênfase na pedofilia.

As crianças foram exploradas nas minas até à exaustão sem ninguém se incomodar. As esposas de famílias operárias foram escravizadas para enriquecer burgueses e capitalistas.

Hoje tudo mudou. Uma criança que ajude no negócio familiar e seja menor de 15 anos será provavelmente retirada aos pais e entregue à Segurança Social com o argumento de que está a ser vítima de exploração de trabalho infantil. Ah! Há excepções. Se o trabalho da criança for na televisão, se for na prática desportiva, no espectáculo em geral (exclui-se o circo, gente pobre que não pode usar crianças nem animais), então a lei já não é válida.

Qualquer artista pornográfica tem direito a primeira página se vier queixar-se que há 10 ou 30 anos atrás um então patrão abusou dela sexualmente. Se tiver a sorte, ou souber inventar com alguma consistência, que um candidato qualquer dormiu com ela ou lhe apalpou o rabo, pode ter a sorte de ser entrevistada para a televisão.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Sempre assim foi.



Ai os padres!



As crianças foram e são abusadas por médicos, por professores e treinadores, de educação física e de outras áreas, por vizinhos, por tios, pelos próprios pais. Hoje felizmente a mentalidade das pessoas evoluiu e a lei também, embora legisladores e juízes só muito lentamente tenham acompanhado a mudança de mentalidades.

Todos os casos antigos foram arquivados. Todos não. Os padres, vivos ou mortos, são chamados a responder por casos com 30 ou 40 anos, mesmo que não existam provas. Os padres católicos, porque os pastores protestantes, dirigentes das Testemunhas de Jeová e de outras seitas vão escapando, muitas vezes com o apoio das famílias das vítimas.

Por que razão, então, a perseguição aos padres católicos?

A resposta é simples. Quem organiza e participa nesta perseguição não está minimamente interessado em crianças abusadas, nem no sofrimento ou felicidade delas, mas apenas em atacar a Igreja. Perdendo por completo a vergonha, até pedem a demissão e prisão do Papa. E não precisam de provas, nem as querem porque elas não existem. Se existissem já tinham vindo à tona. E os católicos honestos ficam indecisos.

Não restam dúvidas de que há padres pedófilos, como há médicos, professores, treinadores, patrões, vizinhos, pais. As vozes que se ouvem não querem ajudar as vítimas, não querem moralizar os prevaricadores, não querem normalizar a vida as pessoas, pois o seu único objectivo é apenas deitar abaixo a Igreja.

Chega de pedir perdão. Castiguem-se os criminosos. E se só castigarem padres, é porque os investigadores e juízes são corruptos e desonestos, por si mesmos ou manipulados, e participam neste imenso ataque à Igreja. Pensam talvez que acabam por matar Deus, não tendo inteligência suficiente para entender que se Deus pudesse ser morto, ou acabar de algum modo, tudo o que Ele criou acabaria também. Isto é, nós.

Sou católico, sou pecador. É uma vergonha que haja padres pedófilos, mas não mais que médicos ou professores ou pais. Não tenho vergonha de ser católico, nem professor, nem pai.

Ah! Entretanto, gente envolvida nesta perseguição e nos chamados movimentos LGBTI*#?%$&!# preconiza a legalização de relações sexuais entre pais e filhos, entre irmãos, com crianças, com animais, com mortos. Talvez consigam legalizar tudo isso, mas não conseguirão tornar esses actos honestos e morais, nem naturais. E talvez acrescentem uma alínea na lei regulando a actividade sexual dos padres, tipo censura ou PIDE. Então não foram já os padres proibidos tantas vezes ao longo da História em tantos países? Não foram proibidos de pregar? De usar paramentos? A Igreja só o é, de verdade, quando sofre.



Orlando de Carvalho



* Imagem: Pormenor de O Jardim das Delícias de Jerónimo Bosch

3 comentários:

  1. Abraço amigo pela coragem...
    Também eu "me sinto envergonhado" por haver pedófilos da Igreja Católica...
    Mas não deixo de me sentir da mesma maneira envergonhado...por fazer parte de uma sociedade em que "nem as crianças são respeitadas..."...
    E também por haver "quem queira passar a ideia..."...de que esse crime horrível "afinal só crime mesmo..."...quando são padres a cometê-lo...

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  2. Quer dizer; a coisa é execrável. Mas a pedofilia não ocorre apenas no seio da Igreja. Ou seja; o mal é universal pelo que o que se passa de execrável no seio da Igreja fica atenuado. E como não se podem atacar todos os médicos, todos os professores e outras entidades também envolvidas nestes escândalos, é a "pobre da Igreja" que leva com todo este ónus que assim pretende diluir estes crimes por outros pecadores da mesma igualha.
    O problema é que a "igualha" não é igual.
    Que se cuide esta organização que se propõe à gestão e encomenda das almas. É bem possível que estas, as almas ainda vivas, continuem a ir ao médico é à escola, mas comecem a pensar que o mais aconselhável é começar a lidar diretamente com Deus em vez se submeter às mãos dos seus "funcionários" pouco católicos nos seus atos.
    Ah... É verdade.
    Eu, um incorrigível abstencionista da preocupação do destino que terá a minha alma quando esta se desligar do meu corpo...
    Entretanto, cá na Terra, continuarei a considerar execrável o que os súbditos de Deus fazem às crianças que as boas almas lhes confiam nos bons caminhos do céu...

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  3. No seculo , em que nós estamos é notório, por partes negativas , em haver pedofilia , no ambiente católico, pois há a intenção de se esconder , mais sobre tudo que nesse dogma tenta descobrir

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