São recorrentes as discussões sobre o Banco Alimentar contra a Fome e
Isabel Jonet.
Sejamos tão claros quanto possível para ficarmos esclarecidos e usemos
apenas factos e evitemos congeminações.
O Banco Alimentar contra a Fome tem sido um factor essencial de apoio
àquela actividade tão importante que as entidades de apoio à pobreza realizam.
Alguns, irracionalmente, estabelecem a ligação entre os bancos
alimentares e o apoio que dão a organizações católicas, ou de direita política,
para fazerem acusações políticas. Tanto quanto sei, não é recusado apoio a
qualquer entidade em função do seu posicionamento político ou religioso. Querem
os tais irracionais que gritam estes disparates que o Estado assuma o papel dos
bancos alimentares, sendo estes exterminados. Esquecem-se que há bancos
alimentares porque o Estado não cumpre a sua função social e alguém tem de
zelar pelos mais frágeis da sociedade. Coitado do Estado! Nem para funcionarem
minimamente escolas e hospitais, o Estado tem dinheiro. Não consegue remover o
amianto, não tem controlado as dietas alimentares escolares. Mas cria-se um
ódio extremo contra o Banco Alimentar contra a Fome apenas por inveja. Outros
queriam fazer o que faz o BA, mas não conseguem porque partem de um princípio
de ódio e isso só conduz ao insucesso.
Fazem-se acusações tão horríveis e criminosas a Isabel Jonet, que nem
as reproduzimos.
Mas não nos podemos coibir de ver e referir uma outra série de factos
em sentido diverso.
Sabemos que Isabel Jonet é oriunda de uma família abastada do Alentejo,
mas pouco mais está acessível ao português comum. E por que devia estar? A
senhora não tem direito à sua privacidade?
Quando alguém tem uma responsabilidade tão grande na sociedade, um peso
desta dimensão, perde alguma privacidade e não pode viver escondida, nem sequer
parecer que vive escondida. Pelo contrário, deve ter a noção que será
escrutinada, como parte do papel que desempenha e isso é bom para que a
sociedade civil seja saudável. Ela mesma deve favorecer esse processo. Privacidade
pessoal é uma coisa diferente de exposição do trabalho público desenvolvido.
É o mesmo cenário que envolve um deputado, um autarca, o presidente de
um clube de futebol ou um padre.
Afinal, em termos reais, quem é mais importante na sociedade portuguesa:
a Presidente da Federação dos Bancos Alimentares ou os presidentes do Benfica,
do Sporting ou do Porto? Aquela alimenta pessoas com fome. Estes manuseiam
milhões no mundo do espectáculo (na verdade não se trata de desporto) em
negócios sobre os quais a opinião tem imensas dúvidas e que apenas suporta
porque o vício do jogo é mais forte que a força da razão.
Quanto maior for a responsabilidade pública de uma pessoa mais imprescindível
se torna conhecer as suas ligações e interesses ao mundo das finanças, ou
qualquer outro ligado ao poder e a existência eventual de incompatibilidades
com as funções realizadas. A honestidade e a transparência não podem ser apenas
presumíveis ou não contestadas, é imperioso que sejam publicadas.
Antigamente, as contas das paróquias eram anualmente afixadas na porta
da igreja. Hoje há outros meios, mas importa que o princípio seja o mesmo.
O público tem que saber quem é Isabel Jonet, como é a logística dos
bancos alimentares, quais são os resultados contabilísticos. Anunciar duas
vezes por ano o total de toneladas de bens recolhidas em dois fins-de-semana em
peditórios nas grandes superfícies comerciais, de pouco ou nada serve.
As grandes superfícies comerciais têm um proveito excepcional com as
campanhas do Banco Alimentar. Isso não nos causa inveja, mas levanta-nos a
questão de querer saber qual a razão pela qual as grandes superfícies são
favorecidas em relação às menores.
Em determinada época de Natal, desenvolvemos, na área geográfica de uma
Paróquia Católica aquilo a que poderíamos chamar mini banco alimentar, através
do pequeno retalho. O ganho reverteu para a Paróquia. A adesão pública foi
grande e revelou uma dinâmica promissora.
Em face deste acontecimento, eu contactei a Federação dos Bancos
Alimentares a quem expus o meu pensamento. Parecia-me contraditório com os
princípios dos bancos alimentares a opção preferencial pelos mais ricos, as
grandes superfícies comerciais, contra os mais pobres, o pequeno retalho, o que
ainda resta dele, e sempre em risco de fechar. O sector da economia que
sustenta quando possível o emprego estável, pois as grandes superfícies admitem
hoje para despedir daqui a seis meses – quantas vezes!
A resposta que recebi foi clara.
Na Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome sabem quem são as
grandes superfícies e estas merecem-lhes toda a credibilidade e também a do
público, o que não sucede com o pequeno retalho. Eles entendem que não
conseguem controlar as doações se forem feitas nas lojas de bairro, nem evitar
roubos ou desvios. Ao contrário das grandes superfícies comerciais onde a
honestidade do processo está garantida, afirmam. Acreditam que os escuteiros
que fazem o controlo no hipermercado não são aptos para controlarem na
mercearia ou no minimercado.
Anteriormente defendi o Banco Alimentar e a Isabel Jonet em diversas
discussões e fóruns de diversas acusações, mas perante a resposta que me deram,
e na qual estou a meditar há bastante tempo, eu não vou mais comprar nas
grandes superfícies para ofertar ao Banco Alimentar. Não porque duvide da
honestidade das pessoas envolvidas, mas porque não entendo a mecânica do Banco
Alimentar e deixei de confiar nesta organização. Eu confio totalmente no
pequeno retalho que colaborou comigo e com a Paróquia na angariação de bens
alimentares para os pobres.
Sei que não vou ter resposta compatível com a minha dúvida e sei que o
meu texto não vai ter uma grande difusão na sociedade portuguesa, porque não
estou ligado a organizações partidárias ou lobbies. Apenas fico bem com a minha
consciência.
Orlando de Carvalho
Anexo 1
A minha carta
para a Federação dos Bancos Alimentares
30 de Novembro
de 2017
Bom dia.
Tenho defendido em conversas e nas redes
sociais o Banco Alimentar dos ataques que lhe são constantemente movidos.
Todavia, há algo que me preocupa. A recolha de
bens nas grandes superfícies é um impulso grande dado às vendas nessas mesmas
superfícies, um favorecimento.
Na minha paróquia já desenvolvi acções
semelhantes usando o pequeno comércio.
Por que razão não fazeis vós o mesmo. Porque
não agir junto do retalho, de modo idêntico àquele que usais para com o
Continente, Pingo Doce... esses grandes colossos que já prejudicam tanto o
pequeno comércio?
Não seria boa ideia desenvolver as mesmas
acções junto de todos os comerciantes?
Fico na expectativa das vossas notícias.
Orlando de Carvalho
Anexo 2
Resposta da Federação
Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome
11 de Dezembro de 2017
Caro Orlando de Carvalho
Respondo, em
nome da Direcção da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, com algum
atraso devido à acumulação de tarefas resultante da recente campanha de recolha
de alimentos, à sua mensagem do passado dia 30 de Novembro, que começo por
agradecer.
É sempre
incentivador para nós saber que alguém acompanha o que fazemos e manifesta um
interesse suficiente para dedicar tempo a esclarecer algum aspecto ou
apresentar alguma sugestão que nos conduza a “fazer melhor”.
O incentivo é
maior quando encontramos, como é o seu caso, verdadeiros amigos que nos
defendem, como diz, “dos ataques que nos são constantemente movidos”.
Em relação à
questão que nos põe:
É um facto que
as campanhas de recolha de alimentos, realizadas duas vezes por ano pelos
Bancos Alimentares proporcionam às superfícies comerciais onde são feitas um
certo impulso às vendas, delas recebendo, como contrapartidas, a
disponibilização do espaço e importante apoio logístico.
Porém, como
certamente se apercebeu, já que, como diz, tem alguma experiência no contacto
para iniciativas idênticas com o “pequeno comércio”, a credibilidade de quem
pede é fundamental para o sucesso da iniciativa de pedir, sendo ao mesmo tempo,
para quem dá, indispensável poder identificar a quem dá.
Estas duas
realidades obrigam a que estejam presentes e recebam os donativos das
campanhas, pessoas que se identifiquem como estando em nome do Banco Alimentar,
cuja credibilidade é universalmente reconhecida. Acresce ainda a exigência de os bens
doados estarem sempre acompanhados e ser necessário assegurar o seu transporte
por Voluntários e carros dos Bancos Alimentares
O
extraordinário número de Voluntários que dão apoio às campanhas dos Bancos
Alimentares (cerca de 42.000 em cada campanha) possibilitam que as campanhas se
realizem em praticamente todas as grandes superfícies comerciais mas não
chegariam para pouco mais que uma escassa percentagem do “pequeno comércio”.
Caso fosse
essa a opção, muito reduzido seria o contributo para os principais objectivos
da realização destas campanhas que são o de alertar a Sociedade para o problema
da pobreza e da fome e dar a conhecer o Banco Alimentar.
Estou à sua
disposição para qualquer esclarecimento que deseje e teria todo o prazer em
acompanhá-lo numa visita que queira fazer á nossas instalações
Os meus
melhores cumprimentos
José Manuel
Simões de Almeida
Boa tarde professor, li com atenção o seu texto e que concordo.Eu, nos primeiros anos do BA, participei fisicamente no armazém em Alcantara,era um trabalho entusiasticamente gratificante, mas pouco a pouco começaram a aparecer jovens, sobretudo escuteiros e outros e a recolha acabava por parecer uma guerra que se traduzia muitas vezes pela destruição dos pacotes de géneros. Deixei de ir e o Carlos enviava mensalmente um cheque, que eu tentei continuar a fazer até ver que financeiramente já não era possível. Deixei mesmo de contribuir com géneros porque não concordo com o IVA que as grandes superfícies auferem. Sobre o pequeno comércio de facto nunca vi ninguém na recolha, o que é um erro porque aqui em Alfragide estão a aparecer pequenos comércios e que têm muita clientela, porque não temos muitos ou quase nenhuns transportes,e nem toda a gente tem carro e também há muitos idosos.Outra coisa que vai cativando as pessoas é que estes pequenos comércios fazem o que antigamente era habitual,têm um livro de débitos e as pessoas vão pagar no fim do mês.
ResponderEliminarTemos uma grande comunidade de Timorenses que já vivem há muitos anos aqui, até da Damaia vêm,é só atravessar o IC19.
Obrigada pelo que me enviou. Um abraço com amizade para vós Todos
Na verdade, "não vejo razão para a não aderência do pequeno comércio"...
ResponderEliminarNo entanto do que conheço desse comércio (e aqui no meu Concelho ...quase não existe...), não vejo grande capacidade de resposta e o publico que o frequenta (e que normalmente apenas a ele recorre para "as situações de emergência"), também me parece que embora pudesse dar uma pequena ajuda, ficaria sempre muito longe do que se pode conseguir nas grandes superfícies...
É verdade que as grandes superfícies devem ganhar bastante com estas campanhas, mas como "evitar" que isso aconteça...sem que sejam os que mais necessitam a ficar prejudicados...
Pena é que estas campanhas não possam acabar...porque o estado que "nos sorve" os rendimentos em impostos...não faz o que devia fazer, a diversos níveis...
Dentro do que me é possível...continuarei a ajudar os BA, para que os mesmo possam acudir às necessidades mais básicas...de quem entre outras coisas...
Passa fome...!