No dia 17 de Junho, eu não tinha qualquer notícia alarmante
sobre o fogo de Pedrógão Grande e passeava no meio da floresta, à distância
apenas de 25 quilómetros do incêndio.
No silêncio, escutei e a aragem que quase não corria roçou
os pelos dos meus braços nus. E fiquei alarmado e comentei para quem me
acompanhava.
- É estranho e assustador o ranger destes pinheiros e destes
eucaliptos. Não me recordo de ter ouvido antes um ranger tão ameaçador. O ar
está tão seco que me molesta os braços.
Eu tinha razão. Os cientistas vieram mais tarde confirmar e
explicar o que eu estava a sentir.
A situação climática excepcional, uma catástrofe natural
(que aconteceu mesmo) e a antiga e habitual incompetência que domina toda a administração
pública portuguesa, completaram o que mãos criminosas iniciaram – não sei se há
provas, mas não tenho dúvida.
Hoje, 15 de Outubro, circulo na ponte que atravessa a Ribeira
de Pinheiro de Loures, junto à Igreja Matriz de Loures e observo o fundo do
leito do rio que já não corre desde há meses, seco como imagem de deserto
hostil e estremeço. Antes, ao entrar no carro, mais a sul, senti o mesmo ar
irrespirável que sentira em Junho. Para amanhã existe a previsão de chuva em
grande quantidade, daquelas tempestades que nesta altura do ano costumam
apanhar de surpresa as autarquias e as outras entidades com competência para
agir que afinal não agiram levando a catástrofes memoráveis.
Que a chuva chegue rápida, que chegue antes de alguma confluência
como a de Abril venha trazer ainda mais desgraça a este país tão devastado.
Orlando de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário