quarta-feira, 23 de maio de 2018

Academia de Alcochete – outra perspectiva


Estas são as idades dos detidos por agressão a jogadores e demais pessoas durante a invasão da Academia do Sporting em Alcochete, de acordo com os relatos jornalísticos.
19, 21, 21, 21, 21, 22, 22, 23, 23, 23, 24, 24, 24, 25, 26, 27, 27, 29, 29, 30, 32, 34, 35.
Não se trata de crianças, mas, na maior parte, também não são homens maduros.
Vi-os nas imagens televisivas e às famílias angustiadas enquanto eram conduzidos pelas forças de segurança.
Não me pareceu que fossem “gente da alta”, em nenhum sentido. Pelo contrário.
Pareceram-me pessoas humildes e de pouca cultura.
Pareceram-me pessoas que foram enganadas e empurradas para o crime.
Criminoso, grande criminoso ou criminosos, é quem se aproveitou daqueles rapazes e homens.
Em vez de lhes arranjarem meios de sustento e de formação e educação cívica, académica e cultural, levaram-nos para o crime.
Sob a alçada da lei foram detidos. Não posso opor-me à sua prisão ou outra condenação se forem julgados culpados.
Sei, como sabemos todos os que temos um bocadinho de miolo dentro da cabeça, que a prisão em nada aproveitará nem aos agressores, nem aos agredidos, nem à sociedade portuguesa.
Cometeram um crime e são criminosos, mas há quem seja muito mais criminoso que eles e que provavelmente se vai safar nesta história.
Assim, a situação é muito injusta. Muito!
Se estes rapazolas passarem 5 ou 6 anos na prisão… ficam com a vida destruída. Embora seja provável que a prisão para alguns deles não seja novidade.
Os objectivos do 25 de Abril foram consubstanciados nos denominados 3 dês: Democratizar, Descolonizar, Desenvolver.
Que desenvolvimento, que educação, que cultura para estes 23? E para tantos outros?
Há os espertos que se enchem, que mandam na frente os testas de ferro e há os pobres ignorantes que se deixam enrolar em cantigas.
Os jogadores ganham milhões: é público. Os treinadores ganham fortunas. Os dirigentes desportivos…quem parte e reparte…
Todos nós, população ignorante, andamos a gritar pelo “clube do coração” com mais força que gritamos pela mãe, pelo pai, pela amante, pelos filhos, pela fé, pela justiça. Não há dinheiro para o necessário, não há assistência na saúde, não há comida saudável, não há casa, não há cultura, mas tudo pode ser dispensado se o ”clube do coração” ganhar, se mesmo que não ganhe houver alternativa que também excite o ânimo e a rijeza muscular.
Quando vamos implementar neste país um Desenvolvimento Educativo que faça de cada fã de “clube do coração” um homem ou uma mulher de cerviz erecta com horizontes de justiça e honestidade, com trato social cortês?
Desejemos todos que a investigação e a justiça vão fundo e não se fiquem pelos testas de ferro.

Orlando de Carvalho

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